A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 90
Daquele ponto em diante, tudo ficou estranhamente ocupado.
Foi um trabalho árduo cozinhar espetos para todas aquelas crianças. “Argh, não aguento mais olhar para isso!”, Günter disse em protesto – e eles começaram a grelhar carne juntos ao lado de Camilla.
“Sua garota grosseira! Você ao menos sabe o que significa ser delicada com a comida?!”
“Eu sou grosseiro, você diz?! Esses seus olhos devem ser pintados!”
“Apenas jogando uma carne tão suculenta na grelha ao acaso assim, como você pode ser outra coisa?! Argh, droga! Vou treinar você do zero, moça!!”
“Você está dizendo que esses espetos não estão deliciosos?! Eu não precisei de nenhuma instrução sua para fazer isso!!”
“Guarde a coragem para quando você realmente puder me superar! Você vai se lembrar disso quando voltarmos para a cozinha, ouviu?!”
Enquanto continuavam a gritar habitualmente ao mesmo tempo que cozinhavam os espetos para as crianças, os que já haviam recebido os seus começaram a caminhar em direção à praça da cidade, conversando alegremente entre si.
Depois de algum tempo, chegaram as mães das crianças.
Devem ter vindo procurar os filhos que saíram para brincar. Depois de encontrar seus filhos na praça ou vagando pela rua principal, eles finalmente se encontraram na barraca também depois de ver o que seus filhos estavam comendo, como se estivessem seguindo o cheiro.
“Então realmente havia um festival acontecendo? É um pouco diferente do que eu imaginava que seria.”
Ao dizer isso, uma das mães olhou em volta da rua principal, com todas as suas barracas quebradas e pisoteadas. Olhando para a rua, Camilla só conseguia vê-la vandalizada, mas talvez quem nunca tinha visto um festival antes pudesse vê-la de forma diferente.
“…Esses meninos realmente gostam de algo delicioso, não é? Meu filho também teve um… Hum…”
“Os adultos têm que pagar cinco cobres. Só crianças ganham comida de graça, certo?”
O menino que conduziu a mãe pela mão disse isso com um sorriso orgulhoso. A mãe pareceu ficar perplexa por um momento, mas acabou cedendo à curiosidade e comprou um.
Enquanto cozinhavam na grelha, outra pessoa se aproximou da barraca. Afinal, o plano de Günter de atrair clientes através do cheiro parecia ter valido a pena.
Algumas pessoas se aproximaram da barraca por pura curiosidade. E depois de algum tempo, essa curiosidade se transformaria em costume. Eventualmente, o fluxo de curiosos e clientes tornou-se uma torrente.
“Um espeto, por favor.”
No atendimento, Camilla repetiu o preço, algo que já havia perdido a conta de quantas vezes havia dito.
“São cinco cobres de Licht por cada espeto.”
“Oh? Eles custam dinheiro?”
Quando ela levantou a cabeça ao som daquela voz mesquinha, ela viu um rosto que ela conhecia olhando para a cabine. Não era o tipo de pessoa que ela esperava, sendo um homem pálido e idoso. Seus cabelos brancos estavam desgrenhados e as roupas que usava pouco mais que trapos. Ao olhar para o velho de aparência indigente, Camilla sentiu as palavras saírem de seus lábios antes que ela pudesse pensar.
“Você, você é o professor de poesia de Klaus, não é?”
A raíz de todo o mal. Foi ele quem originalmente pediu a Klaus que resolvesse o problema da música subterrânea que o perturbava.
“Eu lembro de você. Você estava com Klaus, não estava? Vou levar três então. Se você não se importa.”
“Você tem algum dinheiro? Comprar três não seria barato para você, não é mesmo? Você pode obtê-lo de graça.”
Era fácil dizer que o velho era alguém necessitado só de olhar para ele. As pessoas que vivem em prol de sua paixão geralmente acham difícil ganhar a vida. Ainda mais em Mohnton, uma terra que despreza essas coisas, não havia como ele ter dinheiro.
“Não me trate como um caso de caridade. Já paguei três espetos adiantados. Vou levar mais dois também, vou resolver algo para pagar por eles também.”
Ele também era incrivelmente teimoso.
“O senhor é um sujeito problemático, não é?! Bem, nesse caso… Que assim seja. Vou querer uma de suas músicas, então. Em troca, farei quantos espetos o senhor quiser.”
“Uma das minhas músicas? Tudo bem, então. Vou te dar outra de minhas músicas.”
Dizendo isso, o velho olhou para a praça.
O barulho borbulhante das crianças havia se acalmado um pouco. Parecia que Klaus era quem cantava agora. Então, com um último aceno, ele desistiu de sua posição no palco.
E quem veio substituí-lo foi… Victor. Ele respirou fundo, colocou a mão no peito e pegou o violino.
“Esse barulho terrível com certeza já percorreu um longo caminho, não é?”
Enquanto o velho recebia os espetos de Camilla, um sorriso se espalhava por aquele rosto teimoso enquanto ele se dirigia para a praça.
〇
Victor subiu ao palco.
Dieter, Finne e Otto foram até lá.
Naquela tenda, no canto da praça, só restaram Verrat e Mia.
Enquanto ela abraçava os joelhos contra o peito, a respiração de Verrat permaneceu superficial.
– Eu estou indo agora.
Ao ser convidado por Klaus, que cantava no palco o tempo todo, Victor decidiu subir ao palco por conta própria. Mas quando ele disse isso para Verrat, ela nem levantou o rosto para olhar para ele.
– Meu violino, obrigado por não quebrá-lo… Quanto a seus sentimentos, me desculpe, não posso retribuí-los. Mas, mesmo assim, obrigado.
Mesmo quando Victor disse isso, Verrat ainda não conseguia levantar a cabeça. Quando Victor saiu e os outros o seguiram, ela ainda permaneceu na mesma posição.
– Verrat, nós também estamos indo.
Dieter chamou Verrat antes de sair.
– Você também deveria vir junto, quando puder. Porque, você sabe, a Senhorita Nicole também vai se cansar logo… E todos nós gostamos de ouvir você cantar.
Ninguém lançou suas frustrações contra Verrat. Eles não disseram nada sobre ela ter estragado o dia ou quebrado seus instrumentos.
Mas mesmo que tentassem confortá-la, Verrat não suportava vê-los.
Perto dali, ela ouviu um suspiro.
Sem levantar o rosto, ela sabia que vinha de Mia. Não havia mais ninguém na tenda. Com que tipo de olhos Mia estava olhando para Verrat? Ela não queria saber.
Ao longe, ela podia ouvir o violino de Victor. O barulho da praça parecia tão distante.
“…Eu não sinto pena de você.”
Na tenda que parecia isolada do mundo exterior, Mia parecia estar falando consigo mesma.
“Eu sabia que você amava Victor. Eu sabia que você sempre o amou por muito tempo. Mas não vou entregá-lo a você. Isso é porque eu também o amo.”
Mesmo que ela não pudesse ver, ela podia sentir o olhar de Mia. Aquelas palavras duras que ela enviou a Verrat não tinham nem um centímetro da simpatia que seus amigos tinham.
“O que você fez foi desprezível. Fazendo algo assim, como você poderia capturar o coração de Victor? Atacar apenas para magoar as pessoas e depois fazer parecer que você foi quem mais se machucou… Eu não suporto ver isso.”
Verrat abraçou os joelhos com ainda mais força. Não tinha nada que ela pudesse dizer. Aquelas palavras foram dolorosas de ouvir.
“Mesmo que as pessoas que magoou estejam tentando chegar até você, você ainda está agindo como uma vítima e isso é uma coisa feia… Sinceramente, isso é uma coisa realmente feia. Você está fazendo com que aquelas pessoas que estão preocupadas com você pareçam grandes idiotas.”
Mia soltou um suspiro de raiva. Feia. Verrat sentiu os ombros saltarem ao ouvir a palavra. Foi como um ataque direto ao orgulho que ela carregava durante todo esse tempo.
Ela sempre usou o coração na manga e teve orgulho disso. Ela sempre pensou que se comportava com graça. Ao saber que Victor e Mia haviam ficado noivos, ela desejou-lhes felicidades sem deixar transparecer seus sentimentos.
O ciúme era feio. Agarrar-se a ele seria um desastre. Ela não queria ser como a Camilla das histórias. Ela queria ser legal, admirável e graciosa.
Mas Verrat não era realmente assim.
“Você tocava música com Victor, era sua amiga preciosa. Quando pensei em como você estava vivenciando algo com ele que eu não poderia, fiquei enojada com o ciúme que senti. Eu estava infeliz.
“…Eu também estava sofrendo.”
Ela estava viva. Ela tinha sentimentos. Então, era natural que ela estivesse magoada. Verrat conseguiu espremer a voz.
“Eu sei disso. Você não seria humana se fosse o contrário.”
Mia exalou. Ela ainda olhava diretamente para Verrat.
Mas Verrat não percebeu a inveja naquele olhar.
“Você sempre foi tão legal. Mesmo que você tenha se machucado, você ainda permaneceu orgulhosa e calma. Quando vi o quanto Victor te admirava, fiquei com ciúmes.”
Amor, dor, tristeza, ódio… esses tipos de emoções eram naturais. Eles eram impossíveis de simplesmente desaparecer. Todos têm que chegar a um acordo com eles, seja pessoalmente ou dentro de si.
Eles podem se tornar feios e pegajosos – ou ansiosos e inseguros – ou se perderem no ciúme ou no ódio.
Mas Verrat optou por não confrontar os seus sentimentos e permaneceu orgulhosa. Ela não aceitava a simpatia de ninguém e nunca deixava transparecer sua dor.
Essa era a Verrat legal que Mia sempre invejou.
“Então você vai ficar assim para sempre?”
Mia perguntou a ela.
Enquanto ela abraçava os joelhos, Verrat mordeu o lábio. As lágrimas começaram a manchar sua saia.
Chorar assim não foi nada legal.
Mas fugir dos amigos só para esconder as lágrimas era ainda pior.
〇
Seguindo as crianças, mais e mais pessoas começaram a se reunir na praça e até mesmo os cozinheiros e vendedores ambulantes cujas barracas haviam sido destruídas começaram a voltar.
À medida que os jovens vigilantes começaram a reconstruir as barracas quebradas, desculpando-se, o comércio começou a fluir pela rua principal. Depois disso, ainda mais pessoas começaram a se reunir.
Graças a isso, a barraca de Camilla também continuou movimentada.
Antes que alguém percebesse, a rua estava repleta de gente.
As crianças falavam mais alto do que ninguém. Depois que Nicole saiu do palco depois de um tempo, os jovens músicos começaram a tocar seus instrumentos quebrados, ligeiramente desafinados.
Entre a música, uma voz suave, mas forte, ecoou. Ao som da música que ninguém na multidão tinha ouvido antes, irromperam aplausos.
Num canto da praça, um grupo de pessoas animadas começou a dançar. Alguém que gostou da música tentou cantar junto. Aquelas vozes felizes subiam pelo céu, como se elas anunciassem o início da primavera.
Mas Camilla, que estava mais ocupada do que nunca cozinhando com Günter na barraca, não sabia de nada disso.
Créditos
Tradução e Revisão: Sakata