A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 87
O fio da lâmina tocou o pescoço indefeso de Klaus.
Se o portador da espada quisesse, poderia arrancar a cabeça de Klaus num mero instante.
O vigilante que segurava a lâmina contra o pescoço de Klaus não estava sozinho. Além daqueles que já estavam lá, Lucas trouxe vários outros homens.
Ao contrário de Franz, Lucas não parecia ter qualquer interesse em lidar pessoalmente com Klaus. Ele se flanqueou com homens vigilantes e manteve uma distância de Klaus, que não tinha esperança de superar antes de ser abatido.
Não, na verdade não adiantaria mais usar a palavra ‘vigilante’, aqueles eram os soldados de Lucas. Os homens que não pareciam se encaixar naquela cidade de alegria oculta não eram originários de Blume, mas trabalhavam pessoalmente para Lucas.
“…Você finalmente mostrou sua verdadeira face, tio. Eu queria saber se você iria apenas se esconder em seu quarto até o espetáculo acabar.”
“Se eu não fizesse uma intervenção, você poderia ter manipulado Franz. Esse garoto é honesto, então ele pode cair nas suas fraudes. Você é igual à Gerda, de certa forma.”
“Prefiro que o senhor atribua isso ao meu charme natural.”
Klaus sorriu enquanto deixava sua boca dizer essas palavras. Dito isto, parecia que Lucas estava esperando nos bastidores, para o caso de Franz falhar. Se Franz tivesse matado Klaus sem complicações, Lucas não teria aparecido.
A prudência de Lucas foi um dos seus poucos pontos positivos. Com o controle da milícia vigilante e a morte de Klaus, ele pretendia que tudo isso refletisse em Franz, não em si mesmo. Mesmo que fosse um segredo aberto que ele estava mexendo os pauzinhos, ele não deixou nenhum vestígio de evidência desse fato.
Mas, como ele parecia estar aproveitando uma vantagem tão grande agora, ele parecia estar se divertindo um pouco. A vida de Klaus estava inteiramente nas mãos de Lucas. Com um comando, ele poderia acabar com tudo.
“Você conseguiu persuadir o duque de Montchat com essa sua língua ferina? Meu Deus, você finge ser tão altruísta, mas não passa de um glutão, não é mesmo? Você queria tanto assim se tornar o sucessor?”
“O senhor não está falando de si mesmo, tio? Você quer tanto o controle da Casa de Lörrich a ponto de tentar me matar por isso?”
Embora a família Lörrich fosse orgulhosa e tivesse grande influência sobre Blume, ela ainda era subserviente aos duques de Montchat. Com efeito, não passavam de uma nobreza de baixo escalão que estava localizada numa região remota, sem quaisquer reivindicações territoriais próprias.
Embora o desejo de Franz não fosse nada além de se tornar o sucessor da família Lörrich, para o ambicioso Lucas, isso estava longe de ser suficiente para satisfazê-lo.
“Além disso, o senhor sabe que tenho Alois na palma da minha mão, não é mesmo? Se me matar, basicamente estará declarando uma rebelião aberta contra a Casa de Montchat.”
Quando Klaus disse isso, Lucas apenas zombou. Klaus não conseguia ver a expressão no rosto de Lucas de costas, mas não era difícil de imaginar. Certamente, ele estava debochando de Klaus com altivez, algo que ele queria fazer há um bom tempo.
“A Casa de Montchat não significa nada para mim.”
“…Mesmo que seu oponente seja um duque?”
“E que diferença isso faz? Duque ou não, vou engoli-lo por inteiro. Aquele idiota que eles chamam de ‘Sapo do Pântano’ parece fácil de controlar. Se até Gerda consegue fazer isso, então por que eu não posso?”
A espada que tocava o pescoço de Klaus se contraiu. Foi porque Klaus se moveu ligeiramente ou teria sido por ação do dono da espada?
Para ver Lucas, Klaus torceu levemente o pescoço.
“O senhor com certeza está falante hoje, não é mesmo, tio? Você ao menos percebe o tamanho da bobagem que está dizendo?”
Lucas olhou feio enquanto Klaus olhava para ele com raiva. Mas logo um sorriso ousado voltou ao seu rosto. Afinal, não havia como ele fazer nada sobre a situação em que se encontrava. A cabeça de Klaus poderia ser decapitada no momento em que Lucas quisesse.
Ainda havia muito barulho vindo da rua principal. Para começo de conversa, a confusão na avenida tinha como objetivo impedir que alguém voltasse para o terreno baldio. Não havia ninguém por perto que conseguiria voltar para salvar Klaus e havia homens do lado de fora com ordens estritas para impedir qualquer um que fosse tolo o suficiente para tentar entrar ali.
“Por que eu não deveria ser tão falador? Afinal de contas, hoje é um dia memorável. Meu pobre sobrinho Klaus morreu num trágico acidente e Franz enfim foi confirmado como o próximo chefe da Casa de Lörrich.”
“Então o que pretende fazer com o Duque que ainda está na cidade? Não será tão fácil quanto você pensa. Alois não é tão estúpido assim para cair nessa.”
“Para conseguir o que deseja, você precisa ter o poder de conquistá-lo. É por isso que reuni esses soldados. E se eu precisar que eles matem um sapo… Não acho que isso será um problema.”
Lucas riu novamente com as palavras de Klaus.
“De qualquer forma, a casa de Montchat é apenas um trampolim para mim. Não ficarei confinado a um ducado sombrio como este. Eventualmente, serei dono do próprio palácio real.”
“…Bem, suponho que seja algo admirável ter grandes sonhos.”
Klaus franziu a testa diante da prepotência do tio.
Então, assim como ocorreu com seu tio… Aquela carranca no rosto de Klaus se transformou em um sorriso.
“Mas sonhos são apenas isso, não é mesmo? Sonhos. Além disso, falando assim, tio… Você não passa de um traidor.”
Lucas cruzou os braços, olhando para o sorridente Klaus. Os olhos que encaravam Klaus quase pareciam ter um pingo de pena neles.
“Então você tem mais alguma coisa a dizer? Você realmente acha que vai sobreviver a isso? Bem, por causa de certas reputações brandas, acho que você pode pensar desta maneira. As pessoas nesta cidade realmente são adversas até mesmo a cortar alguém, que me dirá matar alguém.”
Ao dizer isso, Lucas levantou a mão. Os soldados observaram seu movimento. Era como um maestro erguendo a batuta. Assim que a mão caísse, os soldados se moveriam.
“Mas eu não sou tão gentil. Não posso permitir que ninguém revele os meus segredos, então farei com que você morra aqui mesmo, Klaus.”
Cada movimento. Lucas olhou fixamente para Klaus, certificando-se de que ele não se movesse de forma suspeita.
Certificando-se de que ele definitivamente não estava escondendo nada. Que ele não tinha como revidar. Que nada o impediria de cortar o pescoço esguio de Klaus.
“Nem se preocupe em implorar por sua vida. Tomei a liberdade de garantir que você tivesse uma conversa final com sua família antes de sua morte, mas este é o fim.”
E com essas palavras impiedosas, Lucas baixou a mão.
“Matem-no.”
Lucas apontou para Klaus.
Em resposta a isso, a espada encostada no pescoço de Klaus se moveu. O soldado colocou a segunda mão naquela lâmina.
Ele esperava que este festival resolvesse tudo.
O traidor agiu de acordo com as expectativas. Faltava apenas remover o maior obstáculo à ambição de Lucas. Ele com certeza mataria Klaus.
Ele não podia dar a Klaus a menor chance de escapar. O jovem tinha uma língua fluente. Se Lucas confiasse completamente essa tarefa a um incompetente, seriam imensas as chances de que eles pudessem ser persuadidos a colocá-lo na palma da mão.
Para não deixar isso acontecer, Lucas fez questão de supervisionar tudo pessoalmente.
Por isso Lucas tinha que estar lá. Nem que fosse para ter certeza da morte de Klaus.
Depois que Klaus fosse morto, o resto se encaixaria.
O cenário para esse final foi projetado pelo próprio Klaus.
Depois de deixá-lo dar o primeiro passo, ele fez todos os movimentos desde então para chegar a esse fim.
Tudo correu conforme o planejado.
Foi aí que, de repente, o soldado guardou a lâmina como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Em resposta, Klaus finalmente se levantou, olhando para Lucas que piscou surpreso.
“O que significa isso…?”
Lucas murmurou, mal acreditando na situação diante de seus olhos. Klaus encolheu os ombros com um sorriso malicioso, enquanto batia no ombro do soldado que segurava uma espada em seu pescoço há apenas um minuto.
“É assim que a banda toca.”
O soldado respirou fundo, como se esperasse o sinal de Klaus. Ao mesmo tempo, uma enorme quantidade de energia mágica fluiu pelo terreno baldio. Até mesmo Lucas, que não possuía uma magia particularmente forte, conseguia sentir a energia intensamente em sua pele. Ele só conhecia uma pessoa que tinha esse tipo de poder.
“…Como esperado, demorou bastante para suportar mudar meu rosto por metade do dia.”
“Não, não, isso é o que se espera de você. Você conseguiu parecer perfeito e não deixou vazar nenhuma quantidade mana. Você é realmente um monstro quando se trata de magia, não é mesmo?”
“Graças a isso, quase não me resta nenhum poder mágico. Teria sido perigoso se isso continuasse, Klaus.”
O homem que estava ali com um rosto exausto não era um dos soldados de Lucas. Mas definitivamente era um homem que Lucas conhecia.
Ele tinha cabelo prateado. Olhos vermelhos. Lucas ficou surpreso com a presença repentina de um homem com feições tão reais.
“Lorde… Alois…”
“Lucas, sinto muito, mas não posso ignorar o que acabei de ouvir.”
Ao olhar para Lucas, Alois suspirou profundamente. Alois era um tipo de lorde misericordioso, mas nem mesmo ele era indulgente o suficiente para permitir que alguém que tentasse prejudicar Mohnton escapasse tão facilmente.
“Por que… Não, eu… Não… Não…”
Lucas parecia sem palavras. Cada vez que ele tentava inventar uma desculpa esfarrapada, ela nem ao menos passava de seus lábios. Mas isso também não durou muito. Assim que recuperou a compostura, ele rapidamente olhou para seus homens.
“Não… Eu não me importo. Eu teria que fazer isso mais cedo ou mais tarde, de qualquer maneira. Matem os dois de uma vez!”
Lucas gritou enquanto apontava o dedo para Alois e Klaus.
Mas nenhum de seus homens se moveu. Eles apenas olharam silenciosamente para Lucas.
“Por quê?! Vocês não ouviram o que eu disse?! Eu dei uma ordem a vocês! Matem-nos de uma vez!”
A voz de Lucas apenas ecoou pelo estacionamento. À medida que os gritos e berros vindos da rua principal começaram a diminuir, eles ecoaram continuamente naquelas paredes.
O soldado ainda não tinha se movido. Em vez disso, foi a boca de Klaus que se moveu.
“Você é um tolo, tio. Você deposita muita fé na lealdade daqueles que comprou com ouro.”
Os mercenários que Lucas contratou não eram homens que aderiram à sua bandeira depois de simpatizarem com seus ideais.
Foi depois do encontro com os vigilantes da floricultura que Alois percebeu isso. Quando confrontados por Alois, esses homens abandonaram as ordens supostamente dadas a eles por Franz e escaparam. Eles não tinham fé o bastante nos ideais do que estavam fazendo para enfrentar Alois. Em vez disso, optaram por se curvar e prestar respeito diante dele enquanto fugiam.
Eles não estavam lutando por nenhum ideal. Eles seguiram Lucas por oportunismo e, se um patrono mais valioso se revelasse, não perderiam a oportunidade.
Então, qual foi o valor de lutar por alguém como Lucas?
Dinheiro ou a promessa de uma posição. Era fácil supor que aqueles que foram contratados fora da Blume também estavam envolvidos apenas pelo dinheiro.
Sabendo disso, a resposta foi fácil.
“Você realmente acha que é um chefe tão valioso? A casa de um Duque sempre será melhor do que a de um barão.”
“Klaus. Por que você está tão orgulhoso disso?”
Enquanto Alois olhava para ele com dúvida, Klaus apenas encolheu os ombros.
Apenas Lucas parecia estupefato. Os soldados que o cercavam não eram mais seus. Os olhares dos homens não estavam esperando pelas suas ordens, mas sim vigiando-o.
“Mal-…”
Foi Lucas quem ficou encurralado desde o início. Quando a espada foi enfiada em seu pescoço, quando Lucas apareceu, quando ele confessou suas ambições… Durante tudo isso… Klaus continuou sorrindo.
“Maldição…!”
O rosto de Lucas ficou vermelho de raiva. Ele tremia com uma ira incontrolável. Mas, acima da sensação de fúria, ele se sentiu humilhado pela situação em que se encontrava.
“Maldição! Ahh, que assim seja, vou pagar duas vezes o valor que ele estiver oferecendo!”
Lucas gritou, furioso. Ele disse isso antes mesmo de pensar. Apontando para Alois e Klaus, ele continuou a gritar.
“Matem-nos! Se quiserem dinheiro, então ganhem! O que há de errado?! Matem esses homens agora mesmo!!”
Nenhum dos soldados se moveu. Klaus suspirou para o tio, que estava se perdendo em meio a tanta raiva.
“Tio, você é muito lento para ser um membro da família Lörrich, não é mesmo?”
Klaus ergueu o queixo, como se o provocasse ainda mais.
“Você sabe que não tem dinheiro suficiente para fazer isso. Tudo o que você tem agora é o longo descanso que o espera. Descanse um pouco, tio, e deixe de lado essa sua ambição.”
“Dro-…”
Lucas gemeu. “DROGAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!” Mordendo o lábio, ele gritou para o céu enquanto caía de joelhos.
〇
Os soldados tiraram Lucas e Franz, seus antigos patrões, daquele terreno baldio.
Por enquanto, eles deveriam ficar na mansão. Depois seria decidido o que fazer com eles.
Antes de sair, Franz chamou Klaus de forma suave.
“As palavras que você me disse faziam parte do seu plano, não eram, irmão?”
Ele não conseguia interpretar a expressão de Franz. Não parecia que ele se arrependia do que tinha acontecido, mas ainda havia raiva ali. Aqueles olhos ciumentos com os quais ele olhou para Klaus antes ainda estavam lá, mas pareciam um pouco mais tristes agora.
“Essa é a verdade, não é? Você só precisava que eu calasse a boca, então disse algo assim?”
“Eu nunca menti para você.”
Recebendo o olhar de Franz, Klaus respondeu com sinceridade.
“Eu sei o quanto se esforçou e também conheço seus pontos fracos e fortes. Eu realmente espero que você possa me seguir algum dia.”
Franz olhou silenciosamente para Klaus.
Quando Klaus não estava com aquele sorriso frívolo, suas feições eram assustadoramente semelhantes às de Franz. Mesmo que ele tivesse uma personalidade um pouco distorcida, mesmo que tivessem um passado conturbado, os dois definitivamente eram irmãos.
“Mesmo que não acredite em mim, pelo menos tente. Experimente por um ano e depois me diga novamente se acha que eu estava mentindo. Você tem cumprido as ordens do nosso tio há cerca de vinte anos, não é mesmo? Certamente você pode dedicar um ano para mim, não pode?”
“…Vou pensar a respeito.”
Depois de dizer isso em voz baixa, Franz foi escoltado pelos soldados para fora do beco.
Com a saída de Lucas e Franz, apenas Alois, Klaus e alguns soldados permaneceram no estacionamento.
O barulho na avenida principal já havia diminuído. Depois que a confusão passou, houve apenas uma quietude serena.
“Ei.”
Klaus falou chamando Alois com um suspiro.
“Me desculpe por ter envolvido você em tudo isso. Como esperado, eu não estaria bem em confiar em qualquer um para segurar uma espada no meu pescoço.”
“Não, isso também foi pelo bem de Mohnton.”
Ao dizer isso, Alois olhou para o beco, como se estivesse preocupado com o que estava acontecendo na rua principal.
Não, provavelmente não era o estado das ruas que o preocupava. Ele estava preocupado se Camilla estava ou não em segurança em meio à toda a confusão.
Bem, não havia muitas pessoas corajosas ou estúpidas o suficiente para tentar alguma coisa contra a pretendente do Lorde. A própria Camilla não era tão ingênua para tentar acabar com uma briga como essa estando sozinha, e se ela se juntasse a Victor e aos outros, ela deveria estar perfeitamente segura.
Mas mesmo sabendo disso, Alois ainda estava profundamente preocupado.
“…Você mudou, hein?”
Resmungando baixinho, Klaus lançou um olhar oblíquo para Alois. Por trás daquele olhar que parecia cheio de insatisfação e irreverência havia um leve toque de amizade.
No momento em que Klaus percebeu isso, ele franziu a testa com desgosto. E então chamou Alois novamente.
“Ei, estenda sua mão. Levante-o um pouco mais alto também.”
Alois piscou, confuso. Mas ele obedeceu ao pedido de Klaus. Era como uma criança obedecendo aos pais.
– Acho que esse cara nunca teve um amigo antes.
Klaus manteve aquele comentário rude sobre o ainda confuso Alois enquanto levantava a própria mão. Ele odiava esse homem frio que se martirizou pelo bem do território.
Mas, agora, talvez já não odiasse tanto assim.
Klaus riu consigo mesmo de forma debochada enquanto levantava a mão para Alois.
Então bateu com a palma de sua mão na palma da mão de Alois.
Aquele som seco ecoou por todo o terreno.
À medida que os ecos ricocheteavam nas paredes e subiam no céu nascente da primavera, sinalizavam o fim de todo aquele alvoroço.
Créditos
Tradução e Revisão: Sakata