A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 86
Os socos que choveram sobre ele foram quase ingênuos tamanha era a repetição.
Era como se cada soco fosse desferido com o peso de uma memória diferente cheia de mágoa por trás. Mas mesmo que cada soco fosse considerado assim, considerando a diferença de peso entre eles, ainda doía muito.
“Ora, seu…!”
Enquanto Klaus levantava os braços para proteger o rosto, Franz o socava. À medida que os socos o atingiram, Klaus pensou que seus braços poderiam quebrar por causa da força do irmão mais novo.
“Você está sempre tirando de mim as coisas que eu quero!”
O amor que ele deveria ter recebido quando criança. As expectativas de seus pais. A confiança do povo. Ele até roubou seu primeiro amor.
Ele tinha um rosto bonito, era culto e inteligente. O que estava por trás dos olhos do irmão mais novo que invejava seu talentoso irmão mais velho? Klaus sabia.
“O que mais você quer?! Quantas coisas você ainda precisa tirar de mim antes de ficar satisfeito?!”
Franz não era de forma alguma uma pessoa inútil. Ele tinha um corpo forte e estudava com muita diligência. Era um homem comum que compensava seus defeitos trabalhando muito. Seu caráter podia ser ligeiramente distorcido, mas nunca foi distorcido a um grau sério. Ele sempre tentou pensar de forma lógica e, inclusive, parecia a imagem da excelência, nunca deixando transparecer nenhuma de suas fraquezas.
“Argh, já não é o bastante?! Você tem tudo o que deseja, não tem?! Esta é a única coisa que tenho!”
A única coisa que Franz tinha de vantagem sobre Klaus era aquele corpo saudável. As pessoas muitas vezes sussurravam sobre eles desde cedo, “se ao menos tivesse sido o contrário”. Se ao menos Franz tivesse a fraqueza que supostamente quase tirou a vida de Klaus antes dos dez anos… O número de pessoas que pensavam assim não era pequeno.
No entanto, a razão pela qual Franz não odiava o irmão mais velho e conseguia suportar todos aqueles olhares frios era porque pensava que Klaus morreria jovem. Eventualmente todos aqueles olhos que encheram Klaus de carinho teriam que se voltar para ele um dia.
E mesmo assim…
“Por que você ainda está vivo?! Por que você voltou?! Por quê?!”
Enquanto expressava seu remorso, Franz continuou batendo em Klaus. Enquanto ele deixava suas emoções assumirem o controle, sua voz se transformou em um grito.
“Quanto você acha que eu me esforcei para isso?! Quanto tempo demorou desesperadamente?! E você vai tirar tudo de mim outra vez… Irmãããããããooooo!”
Franz sempre se esforçou desesperadamente para não parecer um substituto inferior a Klaus como herdeiro. Mas, por mais que tentasse, Franz nunca conseguiria alcançar Klaus. Seus pais, seus parentes, até mesmo os empregados, todos apenas olhavam na direção de Klaus. Eles nem perceberam o quanto Franz se dedicava. Ele sempre foi apenas o substituto de Klaus.
Mas Franz não podia desistir da sucessão. Porque, quando criança, esse era o único motivo que fazia seus pais olharem em sua direção. Era sua única fonte de orgulho.
Franz sentia uma profunda insegurança quando se tratava de Klaus. Ele invejava o que Klaus possuía, tinha ciúmes de seus talentos, admirava o que ele era e também o odiava por isso.
Klaus sabia exatamente o que se passava na cabeça de seu pobre irmão mais novo.
Porque, de certa forma, Klaus também era assim.
“Eu também nunca quis ser um gênio.”
Klaus cuspiu essas palavras, junto com um pouco de sangue. Pelas feridas em seu braço, ele podia ver o rosto ofegante de Franz. Klaus não sabia quantas vezes Franz, que estava montado nele depois que ele caiu de costas, já tinha dado um soco nele.
Os braços de Franz eram musculosos e firmes. Eles eram bem tonificados e saudáveis. A outra mão que agarrou o pescoço de Klaus tinha uma força juvenil imensa.
Klaus agarrou o braço que segurava seu pescoço. Os braços de Klaus eram finos e, embora alguns pudessem chamá-los de encantadoramente femininos, no momento ele só conseguia vê-los como inúteis e delicados. Sua pele estava pálida. Sua força muscular ou de braço era insignificante.
“Eu não queria nascer ‘talentoso’. Se eu pudesse, entregaria tudo de mão beijada para você…!”
Ele podia sentir mais sangue brotando em sua boca. Esta foi a primeira vez que Klaus foi apanhado em uma briga ou espancado assim. Afinal, ele passou metade da vida isolado em um dos quartos da mansão.
“Você acha que foi o único que sentiu inveja…?! Como você achou que eu me sentia toda vez que te via?!”
Um corpo que não conseguiu andar por muito tempo. Uma vida lamentável que não deveria ter completado seu décimo ano. Embora Franz fosse mais jovem, ele logo se tornou o mais alto dos irmãos. Mesmo depois de superar a morte predita, o corpo de Klaus sempre permaneceu fraco, inclusive agora. Por mais que comesse, ele não conseguia ganhar peso nem músculos e adoecia facilmente.
“Você podia correr lá fora! Não precisava passar todos os dias se perguntando se seria o último dia de sua vida! Você nunca teve que se perguntar ‘Será que vou acordar amanhã?’… Você não faz ideia do quanto eu te invejei!!”
“Então você sabia?!”
Franz ergueu o punho. Era fácil prever onde cairia, porque mesmo que fossem pesados, também eram repetitivos. Especialmente considerando quantos socos ele já recebeu.
“Mesmo que eu tivesse que jogar fora meu ‘talento’, eu queria um corpo saudável! Eu queria passear lá fora. Eu queria ver as flores desabrochando de verdade. Eu queria andar pelas ruas da cidade com meus próprios pés e não apenas vê-las pela janela!”
O punho de Franz voou em sua direção. Aproveitando a chance, já que o soco de Franz apenas atravessou o ar vazio enquanto ele se esquivava, Klaus se moveu para empurrar Franz para longe dele. Franz, que estava montado em Klaus, caiu para trás e a situação se inverteu. Quando a nuca de Franz bateu no chão, ele ficou atordoado por um momento enquanto olhava para cima, estupefato.
“Eu estava sempre observando você correr lá fora da minha janela.”
Mesmo sendo irmãos… Por que eles eram tão diferentes? Ele se ressentiu dele. Ele o invejou. Como Franz tinha ciúmes de Klaus, Klaus odiava Franz. Embora felizmente ele tenha sobrevivido, ao longo daquela década o relacionamento de Klaus e Franz tornou-se distorcido.
“Eu estava com ciúmes e não pude deixar de me sentir assim. Eu invejei você, principalmente porque você nem percebeu a sorte que teve. Eu ansiava pelo que você tinha, enquanto observava pela janela.”
Pela janela. Enquanto o sol brilhava através de sua abertura. Ele não conseguia nem sequer sentir a brisa lá fora enquanto estava deitado na cama. Repetidas vezes, daquela janela, ele observava sua mãe e seu pai levarem Franz para visitar Blume.
Muitas vezes a cidade floresceu com as melhores flores da primavera. Inundada com aquelas lindas pétalas brancas. A flor branca que simbolizava o desejo de Klaus.
“Para mim, aquele que simbolizava o que eu desejava, meu Sehnsucht, sempre foi você…!”
“Então por quê…?!”
Embaixo de Klaus, Franz disse aquelas palavras como se todo o vento tivesse sido arrancado de suas veias. Ele bateu a cabeça com muita força? Ou ter a situação virada contra ele foi um choque? Parecia que ele havia se acalmado um pouco, mas ainda não retribuiu o olhar de Klaus.
“Você queria ser elogiado pelos nossos pais, não é? Para ser reconhecido pelo que você fez, certo?”
“Então por quê?!”
“Eu vou reconhecê-lo.”
Não se intimidando com o grito furioso de Franz, Klaus proferiu mais palavras.
“Eu invejei você e observei você o tempo todo. Eu sei o quão duro você trabalhou. Conheço seus pontos fortes e seus pontos fracos. Vou lhe dar um lugar onde você possa realmente mostrar o seu valor.”
Franz olhou para Klaus, abrindo a boca. Mas ele fechou novamente, sem dizer uma palavra. Ele não conseguia expressar seus sentimentos em palavras, pois continuava respirando com dificuldade.
“Deixe o nosso tio para trás e venha trabalhar comigo. Você é bom demais para trabalhar com ele, de qualquer maneira. Esse cara só te vê como um peão.”
O tio deles era imprudentemente ambicioso. Não havia dúvida de que ele trabalharia para fazer de Franz seu fantoche. Se Franz não pudesse se tornar o sucessor, ele o deixaria de lado.
Mesmo assim, foi ele quem deu propósito e motivação a Franz. É por isso que ele trabalhou de acordo com os projetos de seu tio. Mesmo que às vezes os métodos o fizessem hesitar.
“Você também gosta desta cidade como ela é, certo? Se nosso tio assumir, ele simplesmente vai te transformar em uma ferramenta. Nem você pode ignorar isso, não é?”
“Irmão…”
“Seja meu braço direito, Franz. Preciso que você faça coisas que eu não posso.”
Respirando fundo, Klaus disse isso enquanto olhava para Franz.
Franz mordeu o lábio enquanto olhava para Klaus, tentando descobrir se ele realmente quis dizer o que disse… Mas foi aí que algo aconteceu.
Franz arregalou os olhos de surpresa. Ao mesmo tempo, Klaus sentiu algo frio pressionado com confiança contra seu pescoço.
“Já chega, Klaus.”
Uma voz amarga e envelhecida ecoou naquele terreno baldio.
“Você sempre foi uma pedra no sapato, não é mesmo?”
Aquele homem enorme, cuja aspereza não parecia combinar com a casa de Lörrich, entrou no terreno baldio.
Mas Klaus não conseguia ver a figura de seu odioso tio Lucas, cujo rosto estava contorcido por uma ambição desenfreada. Na verdade, foi difícil para Klaus se virar agora, sentado em cima de Franz.
A razão para isso foi fácil.
Um dos milicianos vigilantes segurava uma espada na lateral do pescoço de Klaus.
Créditos
Tradução e Revisão: Sakata