A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 85
Ela correu para a praça enquanto procurava por Victor e os outros. A primeira coisa que Camilla notou foi Verrat levantando o violino bem acima de sua cabeça.
Ao ver o palco profanado e o choque nos rostos de Victor e de sua amiga, ela instintivamente soube o que estava prestes a fazer.
Então, ela mergulhou no chão, sem realmente pensar no que aconteceria a seguir.
“O que você está fazendo?!”
Camilla gritou enquanto se sentava em cima de Verrat, agarrando seu colarinho.
Não havia nem sombra de seu rosto frio de sempre. A expressão que Verrat tinha ao olhar para Camilla era instável e trêmula.
Quando Camilla a abordou, parecia que Verrat havia deixado cair o violino de Victor. Ele tinha caído um pouco para longe, mas ninguém o pegou. Victor, Mia e seus amigos ficaram olhando para Camilla e Verrat num silêncio atordoado.
“Me solta.”
Apesar de ter se expressado com essas palavras, a voz de Verrat estava calma. Com um tom que soava como se ela tivesse perdido todas as emoções, ela agarrou o braço de Camilla que a segurava.
“Isso é pelo bem de Victor.”
“O que está dizendo?”
Enquanto Camilla olhava para ela, Verrat lançou-lhe uma encarada rápida. Depois ela desviou o olhar novamente, com seus olhos vagando para o violino de Victor.
“A Mia não é digna de estar com Victor. Portanto a Mia é uma pessoa má. A Mia foi a razão pela qual Victor também aprendeu a tocar música.”
Verrat falou isso com clareza. Não era uma voz em tom elevado e a agitação violenta que ocorria na rua principal ainda podia ser ouvida, mas de alguma forma o que ela estava dizendo cortou tudo isso.
Ao ouvir suas palavras e a maneira como as pronunciou, Camilla sentiu que tinha alguma coisa muito errada.
“…Mas você não disse que queria aprender a cantar para poder celebrar o casamento deles?”
“Isso mesmo. Mas Mia é uma pessoa má. Então vou terminar as coisas assim.”
Verrat soltou uma risada pequena e debochada.
Ao ver aquele sorriso torto de Verrat, Camilla finalmente percebeu.
Mais cedo, quando Victor e os outros foram capturados pelos vigilantes, Camilla suspeitou que alguém devia tê-los traído. Mas quando Camilla percebeu que Alois era o suspeito mais provável, descartou a possibilidade de existir um traidor.
Mas as suspeitas de Camilla estavam quase corretas.
“Foi você quem contou tudo à milícia vigilante. Foi você contou a eles sobre o porão.”
Verrat não respondeu. Mas esse silêncio disse tudo o que Camilla precisava saber.
Depois que Victor foi libertado dos vigilantes, ela soube que o noivado dele com Mia poderia estar em perigo. Como era uma vergonha para o filho de um comerciante rico ser apanhado em algo assim, alguém teria que assumir a responsabilidade. Como Mia era filha de um alfaiate pobre, Verrat imaginou que ela se tornaria um bode expiatório facilmente.
Verrat provavelmente não levou em consideração qual seria a reação da família de Victor. Em vez de cancelar o noivado com Mia, foi como se o encorajassem a tentar produzir música novamente.
“Pelo bem e pela felicidade do Victor, a Mia não é a mulher adequada. Todos eles disseram que seria melhor se vocês dois se separassem.”
“…A quem se refere quando diz ‘todos eles’?”
Verrat sorriu com desdém. Ela tinha uma característica perturbadora.
“Você realmente pensa dessa forma?”
Camilla odiou olhar para aquele rosto distorcido. Era insuportavelmente irritante. As palavras que saíram da boca de Verrat também foram desconfortáveis de ouvir.
“Uma coisa dessas é…”
Ao dizer isso, Camilla olhou ao redor.
Ela olhou em torno daquele palco, do qual eles conversavam como se fosse um sonho. Os trajes que outrora foram adaptados para caber perfeitamente em todos eles. Os instrumentos que finalmente pareciam naturais em suas mãos. Ela se lembrava deles praticando com frequência e que todos estavam ansiosos por esse dia.
Tudo estava arruinado. O palco com que sonharam desapareceu. Os amigos de Verrat baixaram os olhos com amargura, sem erguer a voz. Eles não só estavam tristes como também estavam magoados.
Verrat, com quem eles se encontraram, praticaram e riram, estragou tudo com as próprias mãos.
“E você está nos dizendo que isso tudo é pelo bem de Victor…?! Você tem noção de quanta dor está causando a ele ao fazer isso?!”
Ela inadvertidamente despejou poder nas mãos que seguravam Verrat. Até mesmo Verrat pareceu assustada com a força repentina. Algum sentimento humano se mostrou naquela expressão distorcida.
“Como se atreve a dizer que isso é para o bem de alguém?! Se você está dizendo isso com seriedade, então você é a mais baixa dos seres humanos!”
“…Eu também não…”
Em resposta ao grito de Camilla, Verrat murmurou.
“Eu também não queria que o Victor fosse ferido e magoado. Mas não fui a única a pensar assim, todos eles disseram que essa era a coisa certa a fazer…”
“Vou perguntar outra vez: a quem se refere quando diz ‘todos eles’?!”
“Os vigilantes disseram que isso era pelo bem de Victor! Eu também não queria fazer isso! Mas eu tive que fazer isso, foi pelo Victor!”
Verrat agarrou o vestido de Camilla e puxou-a para perto. Quando ela a puxou para frente, as duas ficaram cara a cara.
“Quero que Victor seja feliz! Então mesmo que eu não quisesse fazer isso, eu tinha que fazer!! Não tive escolha!”
Enquanto o cabelo em desalinho caía sobre seus ombros, Verrat gritou com uma expressão exasperada.
Ela não se parecia em nada com a Verrat simpática e digna de antes. Em vez disso, ela estava terrivelmente… Feia.
“Não era isso que eu queria que acontecesse! Mas tive que fazer isso pela pessoa que amo! Você, de todas as pessoas, entende isso, não é?!”
“Eu não entendo nada disso!”
Quando Verrat a puxou para ficarem mais próximas, Camilla não desviou os olhos.
“Tudo o que fiz foi por conta própria e para o meu próprio bem. Apelar para uma desculpa como ‘não tive escolha’ nunca passou pela minha cabeça!”
Como resultado disso, ela foi exilada da capital e ficou conhecida como uma vilã infame. Claro, Camilla não estava feliz com isso. Ela muitas vezes se irritava com a forma como as coisas aconteciam. Ela tinha arrependimentos, ressentimentos e uma raiva notória, mas nunca usou outras pessoas como desculpa esfarrapada. Suas ações nunca foram o resultado de serem coagidas ou persuadidas a fazer algo; em última análise, suas atitudes foram uma escolha da própria Camilla.
Ela desejou a felicidade do príncipe Julian. Mas Camilla nunca agiu em nome de outra pessoa.
“Por que alguém lhe disse para fazer isso? Por que você estava fazendo isso em nome de outra pessoa? A menos que esteja sendo ameaçada, isso não é desculpa. Você realmente pretende fazer tudo isso e depois afirmar que não é você quem está errado?!”
“Mas… Todo mundo…!”
“Você não é todo mundo! Aja por si mesma!”
Camilla agarrou os pulsos de Verrat que estavam presos em seu vestido e os empurrou para trás. Até ela ficou surpresa com quanta força conseguiu colocar em seus braços. Mesmo que Verrat tivesse impulso, Camilla ainda a dominou.
“Você ao menos entende o que está fazendo agora?! Está inventando desculpas esfarrapadas e jogando a culpa em outras pessoas… Você não disse que não queria ser uma mulher feia?!”
Eu nunca quero me tornar uma garota feia. Não quero expor um lado nojento meu. Eu quero continuar linda.
Foi a própria Verrat quem proferiu aquelas palavras que fizeram Camilla ferver de raiva tempo atrás.
Mas o outrora simpática e digna Verrat agora refletia exatamente as palavras que ela proferiu. Um amor que Camilla nunca poderia imitar, um amor que aceitou graciosamente o seu fim. Ao pensar no que disse naquela época, Camilla só ficou com mais raiva agora.
“Ninguém te forçou a fazer o que você fez aqui! Assuma a responsabilidade pelas suas próprias atitudes!”
Se alguém pudesse perceber suas próprias falhas, poderia expiá-las. E se alguém não aceitar isso, que assim seja. Mesmo que o mundo te desprezasse, o certo seria esticar o peito com orgulho de qualquer maneira.
Mas, neste momento, Verrat não poderia fazer nada disso. As mãos que Camilla tirou dela não tinham nenhum poder, enquanto ela soluçava baixinho.
“Mas… Mas eu não fui a única. Todos eles disseram que essa era a melhor decisão… Foi o que me disseram. Se ninguém dissesse isso, eu nunca teria…”
“Já basta.”
Camilla disse isso rapidamente enquanto olhava para Verrat, que continuava dando desculpas esfarrapadas enquanto soluçava baixinho.
“Neste momento, você está realmente feia. Olhe ao seu redor. Olhe para os rostos dos seus amigos.”
Enquanto Camilla suspirava bruscamente, ela olhou em volta. Como se seguisse sua linha de visão, Verrat também olhou.
Naquele palco quebrado, observando Camilla e Verrat à distância, estavam seus amigos.
Victor, Otto, Finne e Dieter. Eles não atacaram Verrat, nem tentaram impedir Camilla, apenas as encararam com uma expressão sombria.
Nos corações daqueles jovens músicos que ansiavam pelo dia de hoje mais do que qualquer outra coisa, a emoção avassaladora era a decepção. E foi Verrat quem pisoteou aqueles corações.
Verrat gemeu enquanto estava deitada sob Camilla.
Enquanto lágrimas brotavam de seus olhos, ela piscou, olhando para uma pessoa de cada vez. Para Verrat, eles eram amigos que ela conhecia há mais tempo do que qualquer outro. Todo o tempo que passaram rindo juntos, a diversão que tiveram juntos, todo o incentivo e elogios que deram um ao outro… Verrat simplesmente estragou tudo.
Verrat sabia que era isso que aconteceria. Ela imaginou o tipo de expressão que seus amigos fariam quando descobrissem.
Mas foi pelo bem de Victor. Todos eles disseram que essa era a melhor decisão.
Então não foi culpa dela… Mas ela não podia se orgulhar disso.
Porque os rostos decepcionados de seus amigos eram como punhais em seu coração.
Créditos
Tradução e Revisão: Sakata