A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 75
Uma melodia oca e aguda ecoou naquele porão vazio.
A intenção era ter um tom alegre e animado, mas o som acabou soando bastante solitário. Mesmo que ela tenha ficado surpresa por ter conseguido tocar a música até o fim, mesmo que fosse um pouco ruim, não havia ninguém para parabenizá-la ou tocar ao lado dela.
Sentada sozinha naquele porão, os lábios de Finne se separaram da flauta. Ela perguntou a si mesma por que estava naquele lugar, praticando sozinha e de maneira inútil.
Não havia mais ninguém que a ouvisse tocar.
“Ei, você com certeza melhorou, hein?”
Então, logo atrás, ela de repente ouviu uma salva de palmas inesperada.
“Quando você conseguiu tocar essa música até o fim? Bom trabalho!”
“Ainda não está bom o suficiente. Ela está desafinada, seu ritmo está todo bagunçado e ela nunca atinge as notas mais altas corretamente!”
“Ei, tenha paciência, um passo de cada vez, certo?”
Enquanto aquela voz feliz cheia de elogios e aquela um pouco mais dura criticando-a se misturavam, Finne olhou atrás dela para a fonte daqueles sons familiares.
“Já faz um tempo que não nos vemos, certo? Então eu acho que a verdadeira culpada do barulho subterrâneo desta vez foi apenas Finne?”
A primeira pessoa que viu foi Klaus encolhendo os ombros. Ao lado dele estava Camilla, com os olhos penetrantes como sempre. Um pouco atrás dos dois estavam Alois e a empregada de Camilla, Nicole, ainda descendo as escadas.
Finne piscou em silêncio, de repente sendo confrontada com a aparência de pessoas que ela nunca pensou em ver novamente. Mas em vez de surpresa ou alívio, o sentimento que batia em seu coração era de empolgação.
De repente, aquele porão frio e solitário ganhou vida.
〇
Nos últimos dias, Finne escapou da casa de sua família para tocar os instrumentos mais uma vez.
“Eu não vi os outros quatro. Minha família também não quer que eu os veja, dizem que são uma ‘má influência’…”
Quando Klaus perguntou a ela sobre o que estava acontecendo, Finne explicou a situação a ele com uma voz taciturna.
“Todo mundo provavelmente está em uma situação semelhante. Victor pode estar com muitos problemas, já que a casa de sua noiva, Mia, não é nada rica. Ouvi meus pais discutindo que talvez tenha sido Mia quem contou aos vigilantes onde estávamos. Talvez os pais de todos os outros pensem a mesma coisa…”
“Que farsa.”
Enquanto Camilla franzia a testa, Finne assentiu tristemente.
“Começamos a fazer isso porque queríamos, certo? Mas como foi por causa do casamento da Mia, os nossos pais suspeitam dela. Aparentemente, eles estão até falando em anular o noivado. Ou pelo menos foi o que meus pais disseram…”
Ao ouvir aquela história desagradável, o olhar de Camilla se aprofundou. Ela não achava nada divertida a ironia de um casamento ser colocado em risco por causa de uma banda ensaiando uma música para celebrá-lo.
“Nós realmente deveríamos ter parado quando o senhor Klaus nos descobriu, afinal… Deveríamos ter entendido o perigo.”
Finne ficou com raiva de si mesma ao dizer isso, olhando para o chão. Quando Camilla chegou ao porão pela primeira vez, Finne foi a garota que sugeriu aos outros jovens músicos que talvez eles devessem parar no fim das contas.
Se eles realmente tivessem parado naquela época, como Finne havia sugerido, talvez nunca tivessem sido descobertos pela milícia vigilante. Os cinco não teriam sofrido com a censura, enquanto o noivado de Victor e Mia também não estaria sob ameaça.
Ela entendeu seu profundo sentimento de arrependimento.
Mas Camilla ainda tinha uma dúvida.
“Se for esse o caso, então por que você veio aqui para praticar de novo?”
“…Eh?”
“Não deve ter sido fácil encontrar outra flauta como essa. Além do mais, se você for descoberta de novo, talvez você não escape só com uma bronca dessa vez.”
Mesmo que o seu “crime” fosse considerado um “voo de fantasia” na primeira vez, não haveria tal clemência na segunda vez. Pior ainda, Finne estava enganando ativamente sua família ao vir para cá. Se ela fosse descoberta novamente, sua liberdade poderia ser tirada para sempre ao se casar em algum lugar ou ficar confinada na casa da família.
“Isso é… É mesmo, não é…?”
A maneira como Finne olhou ao dizer isso foi como se ela só tivesse percebido o quão estranhas eram suas ações depois que Camilla fez menção a isso. Ela piscou um pouco, estupefata, depois abraçou a flauta perto de si.
“O porquê… É que sinto que não posso deixar isso passar. Me senti muito feliz quando consegui emitir um som pela primeira vez… Fiquei muito feliz com a forma como todos me elogiaram…”
Na primeira vez que Finne conseguiu tocar uma melodia adequada com sua flauta, seus amigos aplaudiram e a elogiaram, reunindo-se ao seu redor com grandes sorrisos no rosto. Camilla rejeitou a situação como se ela ‘só estivesse fazendo um único som’, mas para Finne era muito mais do que isso.
Camilla sentiu uma sensação de desconforto ao lembrar o que disse enquanto observava Finne em silêncio. Não havia mais ninguém aqui para elogiá-la daquele jeito. Camilla até argumentou contra as palavras de elogio que Klaus havia oferecido pouco antes.
“…Ei, só mais uma vez, por favor, toque essa música para nós. Esse seu som, eu não odeio nada.”
“Isso não está bom.”
Finne ficou um pouco surpresa com essas palavras, mas ainda murmurou debochando de si mesma. Vendo uma expressão tão terrível de auto-aversão no rosto daquela garota quieta, Camilla inadvertidamente se sentiu desconfortável.
Mas então ela suspirou com aquele tom característico de impaciência.
“Bom ou ruim, não importa. Eu simplesmente acho que é triste que haja uma música que não seja ouvida, então toque-a para mim, por favor.”
Quando Camilla voltou a ser arrogante, um pequeno sorriso voltou ao rosto de Finne. “Muito obrigada” – foi o que Finne disse, antes de erguer a flauta que abraçava contra o peito.
Fechando os olhos, Finne levou-a aos lábios.
Uma melodia triste e solitária, envolta em uma melodia tocada de maneira desajeitada, mais uma vez ecoou pelo porão.
Mas, quando ela disse que não odiava aquele som, ela não estava mentindo.
Aquele som honesto, vindo direto do coração de Finne, não desagradou Camilla de forma alguma.
Créditos
Tradução e Revisão: Sakata