A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 71
Mesmo que Camilla tenha feito poucas melhorias em seu relacionamento com Alois, ela teve um relativo sucesso com Victor e seu grupo.
Otto e Finne foram além de apenas serem capazes de emitir sons e agora podiam tocar toda a escala musical em ordem no oboé e na flauta. Dieter conseguiu ajustar a força com que tocava as notas e Verrat parou de forçar a garganta enquanto cantava. Enquanto isso, Victor tornou-se capaz de tocar melodias simples com seu violino.
Sempre que algum deles progredia, todo o grupo se reunia e parabenizava o indivíduo. Sempre que alguém expressava problemas com determinada parte, todos encorajavam a pessoa a continuar tentando e a fazer o melhor possível. Camilla percebeu o quão forte a amizade entre eles era de fato. Além do mais, ela entendia por que Klaus estava tão empenhado em ensiná-los.
No entanto, aqueles dias de paz foram passageiros, pois a realidade que eles estavam evitando surgiu repentinamente.
Estava um belo dia sem nuvens no céu, embora o ar frio fosse suficiente para deixar a pele vermelha. Ao sair com Klaus e os demais como sempre, Camilla percebeu que a avenida central estava muito mais barulhenta que o normal.
Por causa do frio intenso do inverno, era raro ver tantas pessoas nas ruas. Havia algo de sinistro no barulho, aquelas vozes ecoando pela rua tinham um ar perturbador.
Quando Klaus decidiu investigar, ninguém discutiu com ele enquanto todos corriam em direção à causa da comoção.
No centro de todo o alvoroço estava um grupo de homens armados e com vestimentas impecáveis.
Ao lado dos homens de aparência forte, alguém gritou. Eles reconheceram o jovem que caiu no chão.
“Victor…!”
O grito de Camilla foi engolido pelo barulho que os rodeava. ‘Coitado’, ‘Que idiota, né?’, ‘Estão colhendo o que plantaram’, ‘Não, isso está indo longe demais…’.
Ao ser cercada por um redemoinho de inúmeras vozes, Camilla ficou atordoada.
Por que Victor, Dieter e Otto foram jogados no chão daquele jeito? Otto e Dieter gemeram de agonia ao serem atingidos repetidas vezes pelos punhos daqueles homens. Só que Victor não estava sendo pressionado, mal conseguindo se levantar novamente. Por causa disso, ela podia ver os hematomas e cortes por todo o rosto dele.
Tropeçando para trás, Victor caiu de joelhos ao lado de Finne e Verrat, cujos braços estavam sendo segurados nas costas por outros dois homens. Não parecia que tinham sido espancados como os meninos. Embora fosse contida com força, a cabeça de Verrat pendia desanimada enquanto Finne chorava de terror. Aos seus pés havia maços de papel rasgado e picado… Só poderiam ser as partituras musicais.
“São os vigilantes de Franz…!”
Klaus murmurou com raiva. A notória multidão de vigilantes diretamente sob o controle de Franz, o grupo que Victor e seus amigos temiam tão profundamente. Eles eram incrivelmente rígidos quando se tratava de fazer cumprir os tabus de Mohnton e eram conhecidos por dar exemplos públicos de qualquer pessoa que quebrasse as regras.
Eles devem ter descoberto o que os jovens músicos faziam no porão subterrâneo. Que eles estavam tocando músicas proibidas na cidade.
– Como eles foram descobertos?!
Alguém os traiu? Foi o que Camilla pensou a princípio, mas balançou a cabeça.
Em primeiro lugar, havia muitos rumores sobre o que estava acontecendo no subsolo. Eles devem ter esquecido de fechar a porta do porão subterrâneo e um vigilante curioso investigou o barulho.
Se alguém tivesse contado aos vigilantes o que estava acontecendo, as únicas pessoas poderiam ter sido os próprios cinco músicos, Camilla, Nicole, Alois ou Klaus. Ela não achava que algum daqueles cinco amigos iria trair um ao outro. Então, era alguém do grupo de Camilla?
Afinal, o pai de Klaus, Rudolph, pediu a Alois que monitorasse seu filho. E já que o estava monitorando, ele também havia dado relatórios? Levando isso em consideração, Alois era a pessoa com maior probabilidade entre os nove de vazar a informação.
– Não.
Camilla negou a possibilidade de haver um informante entre eles.
– Lorde Alois nunca faria algo assim.
Mesmo que ela achasse estranho trocar palavras ou até mesmo ficar sozinha com ele, ela sabia que ele não havia mudado. Camilla acreditava em Alois.
“P-Pare com isso! Pare, por favor!!”
No meio de todo o furor, o grito de Victor soou.
Camilla ergueu a cabeça novamente para ver com rapidez. No limite de sua visão, ela podia ver Victor de joelhos, implorando aos vigilantes. Nas mãos de um dos homens estava o violino de Victor. Agarrando-o pelo pescoço, ele bateu com força.
O violino foi esmagado na calçada e o som oco da madeira estilhaçando na calçada foi angustiante.
Mesmo antes de ouvir Victor gritar de angústia, Camilla correu para frente.
“Camilla?!”
O grito de pânico de Alois explodiu atrás dela. Mas Camilla não parou.
“…O que pensa que está fazendo?!”
Um dos vigilantes se virou para olhar para Camilla, que de repente saltou no meio da multidão ao redor.
“Quem diabos é você…? Espere…”
O homem se virou e olhou para Camilla com desconfiança, então seus olhos se arregalaram lentamente de surpresa.
“Você é… Lady Camilla?”
“Ah, nós nos conhecemos?”
“Ah, não é isso, é que você é famosa, afinal.”
O homem rapidamente tentou encobrir seu lapso de língua.
Mesmo que as pessoas soubessem o nome dela, o povo comum de Mohnton não deveria ser capaz de reconhecer Camilla imediatamente. No máximo, tudo o que deveriam saber sobre sua aparência era que ela era uma jovem com feições severas e cabelos negros. Afinal, Victor e os outros não tinham ideia de quem era Camilla até ela explodir de raiva.
“De qualquer forma, o que está fazendo? Eu não recomendaria me envolver em um caso complicado como esse.”
“Deixe-os em paz.”
“Eu temo não poder fazer isso. Afinal essas pessoas violaram as regras desta cidade.”
Por mais determinadas que fossem as palavras de Camilla, o rosto do homem permaneceu resoluto. Mesmo sabendo exatamente quem era Camilla, ele não parecia ter medo dela. A razão pela qual ele foi tão desafiador foi devido ao apoio de quem estava controlando?
“Você os está tratando como se fossem assassinos! O que lhe dá o direito de subjugá-los e mantê-los no chão?!”
“Demonstrações repugnantes de vício acabarão por levar a mais mortes do que um maníaco balançando uma faca.”
“Não é apenas música?! O que há de tão errado em tocar?! Você age como se eles tivessem violado algum tipo de lei militar!”
A boca do homem se curvou enquanto Camilla gritava com ele. Ao se estender por seu rosto, assumiu a forma de um sorriso desagradável.
“Parece que Lady Camilla tem alguma compreensão desses tipos de vícios perversos, não é mesmo?”
“O que você disse?”
“Como esperado de uma nobre senhorita obcecada pelo vício de suas próprias paixões. Por causa disso, você quer proteger pessoas como essas que estão seguindo o mesmo caminho que você. Você com certeza é gentil.”
O homem falou como se estivesse elogiando Camilla, mas o desprezo em sua voz era óbvio.
“No entanto, se você se entregar demais a vícios como esse, não será capaz de chegar a nenhum julgamento sólido. Portanto, embora eu não tenha nada além da mais profunda admiração pela gentileza de Lady Camilla, esta cidade deve lidar resolutamente com seus próprios problemas. Caso contrário, poderemos entrar em algum conflito desnecessário.”
“E o que você está fazendo deveria impedir isso?!”
“Sim.”
A expressão do homem não mudou quando ele olhou para ela, ainda segurando os restos quebrados do violino na mão.
“É natural. Porque neste mundo há mulheres que, afogadas nos seus próprios desejos maníacos de amor, se mostram capazes de tentar arrastar jovens inocentes para a sua depravação.”
“…O quê?”
“Apesar de todos aqueles inúmeros crimes dela terem sido descobertos, uma certa senhorita ainda não conseguia esquecer a pessoa que ela ansiava tão desesperadamente. Para tentar mais uma vez roubar o amor que ela insiste que pertence a ela, ela chegaria ao ponto de puxar os cordelinhos do homem com quem foi exilada para se casar… Ou assim dizem os rumores.”
O nome de Camilla, que o homem disse inadvertidamente com silencioso espanto no início da conversa, de repente se espalhou pela multidão de espectadores.
Camilla Storm.
Uma mulher desprezivelmente má que tentou enredar o príncipe Julian e atormentou a pura e inocente Liselotte.
Um ser humano horrível que foi exilado em Mohnton como punição por seus crimes.
Como ondas ondulantes, murmúrios do nome de Camilla ecoaram pela multidão reunida.
“…Você está falando de mim?”
“Oh, não. Eu estava apenas relembrando uma velha história que ouvi enquanto fazia a ronda. Ou, talvez, você saiba mais do que eu?”
Enquanto os sussurros giravam atrás dela, ela sentiu o sangue subindo para sua cabeça. Ela sentiu uma profunda sensação de raiva e humilhação.
Certamente, o homem não havia dito expressamente que a pessoa de quem falava era a própria Camilla, a mulher que estava na sua frente. Tudo o que ele mencionou foram os pontos vagos que poderiam ser atribuídos a inúmeros dramas sobre amor e arrependimento.
Se ela argumentasse contra ele, ela praticamente afirmaria isso aos olhos da multidão. Se ela permanecesse em silêncio, estaria fazendo o jogo deste homem.
“Antes daquela mulher cair na ruína, ela deveria ter desistido de suas vergonhosas tentativas de amor. E esse caso é similar. Para um bem maior, devemos abandonar esses vícios proibidos.”
A multidão que assistia havia ficado maior. Alois também estava em algum lugar entre eles. Quando Camilla se lembrou da última vez que falou sobre como não podia desistir do príncipe Julian, como isso magoou Alois, as palavras com as quais ela queria repreender o vigilante ficaram presas em sua garganta.
Embora a vergonha e a raiva que cresciam dentro dela fossem quase insuportáveis, com esse pensamento em mente, aquela estranha sensação de autocontrole conteve Camilla.
“Desistir tanto do amor obsessivo quanto do vício repulsivo é mais adequado a uma pessoa sábia. Você não concorda, Lady Camilla?”
– Como se eu pudesse desistir…
Camilla cerrou os punhos. Ela olhou para o homem enquanto mastigava o lábio, mas não disse uma palavra.
Se Alois não estivesse naquele lugar, Camilla não teria se contido. Não haveria necessidade de sofrer a desonra que este homem lhe causava, nem sentiria qualquer remorso por ainda se apegar ao amor que sentia pelo príncipe Julian. Ela teria esticado o peito e dito a ele exatamente o que pensava.
Mas, com Alois em mente… Ela olhou para a multidão atrás dela.
Ela se viu procurando por Alois… mas ele não estava lá. Olhando para trás, de onde havia deixado Alois, ela só conseguia ver os rostos preocupados de Klaus e Nicole.
– Lorde Alois?
A pergunta que lhe veio à mente desapareceu assim que apareceu.
Onde estava Alois? Camilla nem precisou procurá-lo.
“Não se atreva a dizer mais uma palavra para ela.”
Camilla sentiu uma mão em seu ombro.
Quando ela se sentiu puxada para trás, uma forma familiar apareceu na sua frente.
“Deixe todos eles irem também. Não vou perdoar ninguém que cometa violência nesta cidade.”
“Quem é desta vez… Lorde Alois, não é? Eu não vi você entre a turba.”
O rosto do vigilante endureceu quando ele disse isso. Parecia que ele estava bem lidando com Camilla sozinho, mas ir contra o Lorde desta terra estava além de sua capacidade. Os outros vigilantes também pareciam assustados, afrouxando o controle sobre os jovens músicos. Dieter e Otto levantaram timidamente a cabeça, observando ansiosamente a cena que se desenrolava diante deles.
“Em primeiro lugar, não estamos cometendo violência, estamos simplesmente aplicando a punição adequada a esses indivíduos que quebraram as regras. O senhor não precisa se envolver. Os assuntos de Blume deveriam ser resolvidos pelos próprios cidadãos de Blume.”
“Eu não posso aceitar isso. Blume faz parte do Ducado de Mohnton. Acima de tudo, não posso perdoar o fato de você tê-la insultado.”
Quando Alois disse isso, ele se adiantou para proteger Camilla. Como se estivesse perdendo a calma, o homem balançou a cabeça. Ele provavelmente não esperava que Alois viesse em defesa de Camilla.
“Eu nunca sonharia em insultar Lady Camilla. Eu estava apenas falando sobre as histórias que todo mundo ouviu… Ou Lorde Alois, você também acredita que Lady Camilla, que pode eventualmente ser sua esposa, ainda tem sentimentos apenas pelo Príncipe Julian?”
O homem tentou encurralar Alois. Se Alois admitisse isso diante do público seria o mesmo que confessar que era um homem patético e traído, casando-se com uma mulher que amava outro homem. É claro que casamentos sem amor não eram uma raridade neste país, mas seria o cúmulo da vergonha um nobre ter de admitir isso.
Alois se virou e olhou para Camilla atrás dele. Vendo Camilla ainda furiosa e olhando feio para o homem por trás dele, Alois suspirou.
“Isso mesmo”, disse ele.
“Apesar de estar exilada da capital real, ela ainda não se esqueceu de Vossa Alteza, porque é uma pessoa apaixonada e amorosa. Condená-la por isso seria o mesmo que negar o seu coração.”
“Você está falando sério, Lorde Alois…?!”
O homem murmurou em choque abjeto. Os olhos com que ele olhou para Alois estavam cheios de total descrença.
Seguindo todos os rumores, Camilla era uma mulher má. Mesmo depois de ser exilada em Mohnton, ela era egoísta e mesquinha, atrasando o casamento com Lorde Alois por causa do quanto ela insultava sua aparência. Ela também tinha uma reputação terrível entre os criados.
O homem simplesmente não conseguia entender por que diabos ele defenderia uma mulher tão desprezível como ela.
“Quanto a não poder deixar de lado um amor não correspondido, eu também sou assim. Seguindo suas palavras, eu também sou culpado de ceder ao mesmo vício, correto? Então, se há uma punição a ser aplicada, então eu também deveria ser punido.”
“Isso é impossível, punir Lord Alois seria…”
“Nesse caso, liberte todos eles.”
“Guh,” o homem gemeu, mas por mais enojado que parecesse, ele assentiu. Os outros vigilantes voltaram os olhos para o homem cuja cabeça estava baixa. Parecia que ele era o líder do grupo deles.
O homem olhou carrancudo, fechando os olhos. Então, depois de respirar fundo, ele soltou uma voz humilhada.
“…Justamente como ele falou, libertem esses cinco!”
Quando o homem disse isso, os vigilantes libertaram todos os seus cativos.
〇
Depois que os vigilantes partiram, a multidão se dispersou gradualmente.
“…Hum, muito obrigado…”
Com a voz abatida, Victor curvou-se diante de Alois e Camilla.
Havia vários cortes e um hematoma profundamente descolorido arruinando a bochecha daquele belo jovem. Não foi apenas Victor que foi espancado, Dieter e Otto também ficaram feridos.
“Não, a culpa é minha por não tê-los ajudado antes.”
“De jeito nenhum…”
Victor balançou a cabeça fracamente enquanto Alois tentava se desculpar.
Seus olhos seguiram em direção ao violino quebrado com seus restos quebrados ainda espalhados pela rua. Estava completamente destruído, muito além do ponto de reparo. As cordas estavam esfoladas e quebradas, fragmentos de madeira perdidos na neve.
“Isso sempre iria acontecer. Tudo o que estávamos fazendo era causar problemas para todos, especialmente para nossas famílias… Em primeiro lugar, nunca deveríamos ter começado a tocar música…”
Ninguém tentou argumentar contra as palavras de Victor.
Aqueles cinco jovens, alguns deles cuidando das feridas, olhavam para o chão, com os olhares vazios e frios.
Créditos
Tradução e Revisão: Sakata