A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 55
“Ah, então você conheceu Klaus?”
Camilla caminhou direto da cozinha até Alois, onde suas queixas foram recebidas com uma careta.
Alois estava em seu escritório, enterrado até o pescoço em uma montanha de documentos, sentado à escrivaninha.
Mas, por enquanto, ele deixou a caneta de lado. Quem saberia dizer se era porque ele estava realmente preocupado com as queixas de Camilla ou se era porque ele pragmaticamente percebeu que ignorá-la enquanto ela estava enfurecida seria uma atitude muito imprudente?
A própria Camilla se sentiu culpada por interromper Alois, que obviamente estava muito ocupada. Pelo menos ela achava que esse sentimento era de culpa. Mas mesmo que ela se sentisse culpada, esse sentimento vinha em segundo lugar em relação à raiva.
“’Ah, então você conheceu ele’, uma ova! Você não ouviu uma palavra do que acabei de lhe dizer?! Ele chamou sua refeição de ‘comida de porco’, Lorde Alois!”
– Porco.
A própria Camilla muitas vezes amaldiçoou o homem à sua frente como um sapo ou uma rã, por causa de sua barriga redonda e pele áspera. Mesmo que sua posição social em comparação com Alois não lhe desse margem para chamá-lo assim, o próprio homem não parecia interessado em refutar suas palavras, então não havia realmente um problema nisso.
Pelo menos, Camilla não o chama de porco. Havia algo mais nítido nessas palavras em comparação com a palavra ‘sapo’, um sentimento mais profundo de malícia e zombaria imbuído nela.
“Em primeiro lugar, Lorde Alois, você nem é mais tão parecido com um porco assim! Você só está um pouco mais carnudo do que uma pessoa normal!”
Sete meses se passaram desde que ela conheceu Alois. Seu pescoço não era mais circundado por queixos grossos e seus olhos e boca não eram mais obscurecidos pela gordura que crescia em seu rosto. Até a pele de sapo começava a melhorar aos poucos graças à pomada que ela trouxera de Einst.
Lenta e firmemente, ele certamente estava escapando da zona dos sapos. Tudo o que restava acabar com a flacidez restante, transformar a carne flácida de seus braços em músculos, escolher um novo guarda-roupa e remover aqueles pelos de esfregão gordurosos no topo de sua cabeça que ele teve a ousadia de chamar de cabelo. Então talvez assim ele enfim estivesse pronto para enfrentar os olhares do público. Sua pele ainda era o maior obstáculo, mas isso poderia ser superado com o uso liberal de maquiagem.
“Muito obrigado… Espere, eu deveria te agradecer?”
Alois sempre zombava de si mesmo, mas dessa vez riu alto demais. Será que o motivo para não se magoar foi porque ele começou a entender quem era Camilla?
Não…
“Por que você está tranquilo quanto a isso?!”
Se ele realmente entendesse Camilla, não teria rido.
“Não diga ‘Obrigado’! Você não deveria sentir alguma vergonha em ouvir uma coisa dessas?! Você simplesmente vai deixar isso acontecer desse jeito?!”
Embora isso tenha dito pela própria Camilla, ela foi a única que ficou com raiva. Mas como Alois simplesmente aceitou o insulto proferido em sua cara com uma risada, ela se sentiu uma tola ficando frustrada sozinha, o que, ironicamente, só a deixou mais furiosa.
“As únicas pessoas que dizem coisas assim para mim são você e Klaus, sabia?”
Alois deu de ombros ao dizer isso.
“Ele é um homem bom.”
“Um bom homem?!”
Que parte dele poderia ser chamada de boa? Camilla não pôde deixar de repetir suas palavras para ele, incrédula.
É verdade que seu rosto não era nada feio. Isso fica ainda mais aparente quando ela comparou aquele rosto dele com o de Alois, que estava sentado na frente dela agora. Seu cabelo encaracolado estava bem penteado, enquanto ele usava seu uniforme de chef de maneira pouco ortodoxa, mas apresentável, de alguma forma fazendo com que parecessem elegantes. Além do mais, ele tinha um ar intrinsecamente estiloso na forma de andar e se comportar.
Por um momento fugaz, ela pensou que a pele clara e a forma esbelta dele estavam à altura até mesmo do príncipe Julian.
Mas, por mais bonita que fosse sua aparência, aquela postura dele estragava tudo. Klaus foi rude e desrespeitoso, sem saber o seu devido lugar.
Em primeiro lugar, Camilla odiava flertes frívolos como aquele.
“Ele não é um homem bom mesmo! Se fôssemos comparar, então você…”
– Você?
Camilla engoliu as palavras que viriam a seguir.
Ela se deu conta que os sentimentos passionais que surgiram a partir do momento em que ela voltou da cozinha já estavam esfriando rapidamente. Não acreditando nas palavras estranhas que estavam prestes a sair de sua boca, Camilla piscou incrédula.
Respirando fundo e soltando o ar, Camilla baixou os olhos. Aquele silêncio nada natural durou apenas alguns segundos, mas pareceu durar uma vida inteira. Depois de alguns momentos, Camilla continuou de onde havia parado, com sua voz mudando de tom estranhamente enquanto ela repetia aquela palavra.
“…Julian. O príncipe Julian é um homem muito melhor.”
Ela mal estava pensando na raiva que sentia por Klaus.
“Sinto muito por ele, por de repente estar sendo comparado à Vossa Alteza.”
Alois exalou algo entre um suspiro e uma risada enquanto ouvia as palavras de Camilla. Havia uma leve melancolia naquela expressão dele.
“Ele é incomparavelmente superior quando se trata de personalidade e aparência… E o mais importante de tudo, ele é o homem por quem me apaixonei.”
“…Sim.”
Se apaixonou. Ela realmente o amava, mas esse amor nunca deu frutos. Ela havia sofrido um coração partido e uma retribuição severa do homem que ela tanto amara.
Ainda assim, Camilla nunca poderia esquecer.
Para Camilla, ele era o único homem em quem ela havia pensado dessa maneira. Naquela época, ainda agora e para sempre.
– Não importa o quanto ele possa me odiar, eu ainda o amo.
“Não há homem que se compare ao príncipe Julian.”
Dizendo isso como se estivesse se convencendo, Camilla cerrou os punhos e ergueu o rosto.
A primeira coisa que viu foi Alois. Enquanto ela mantinha os olhos no chão, ele devia estar olhando para ela. Camilla podia se ver refletida naqueles olhos vermelhos dele que estavam ligeiramente semicerrados.
“Você realmente o ama, então?”
“Isso mesmo. Meu amor por ele nunca vai mudar.”
“Hum,” Alois suspirou enquanto esfregava o queixo, com uma expressão difícil de interpretar. Então, após um momento de hesitação, ele fez uma pergunta a Camilla sem tirar os olhos dela.
“Posso perguntar como você passou a amá-lo do seu jeito?”
Camilla franziu um pouco a testa ao se sentir presa no olhar de Alois.
Camilla e o príncipe Julian se conheceram há cerca de onze anos.
Na época, Camilla tinha apenas sete anos.
O primeiro encontro deles foi uma completa coincidência. Aconteceu quando Camilla estava visitando o Palácio Real junto com seus pais.
Desde o início, Camilla sempre se irritara facilmente e perdera a paciência. Ela se ofendeu com alguma coisa trivial naquele dia e fugiu de seus pais, indo para dentro do palácio.
Enquanto ela vagava sozinha pelos corredores do palácio, Camilla acabou encontrando o príncipe Julian. Naquela época, ela não tinha ideia de que o menino era um príncipe, então ela o chamou sem demonstrar timidez.
O príncipe Julian estava sozinho. Ao olhar para ele, ela ficou impressionada com aquela beleza inerente que parecia vir dele tão naturalmente. Mas ela também achou que ele parecia perdido no fundo de um poço de solidão.
Então Camilla estendeu os biscoitos que estava segurando, sendo esta a primeira vez que ela fazia biscoitos assim na vida.
Então, após um momento de hesitação, o príncipe Julian pegou um daqueles biscoitos e comeu.
Ele havia dito àquela jovem que os biscoitos de formato torto e levemente queimados que ela havia feito eram deliciosos.
Foi a primeira vez que alguém chamou a comida que ela fazia de ‘deliciosa’.
“…Isso é tudo?”
Alois piscou, olhando para Camilla.
No entanto, esse foi o fim de sua história.
Em sua mente, Camilla disse a Aloi exatamente o que ele pediu.
“Isso é tudo.”
Foi o que disse Camilla. Um pouco assustado com a intensidade com que ela disse essas palavras, os olhos de Alois se arregalaram um pouco.
Aqueles olhos surpresos dele mantinham o olhar de Camilla, enquanto ela acreditava estar ciente do motivo pelo qual ele estava tão surpreso.
“O que é? Você tem algum problema?”
Ela estava claramente irritada, com sua voz tremendo levemente enquanto ela tentava suprimi-la.
Camilla podia sentir seu rosto ficando vermelho. Suas mãos já estavam com os punhos fechados enquanto ela olhava para Alois, desafiando-o a dizer uma palavra.
Para seu desgosto, ela podia sentir algo no canto dos olhos. Quanto mais ela mordia o lábio, tentando conter esses sentimentos, mais frustrada ela ficava.
A vergonha, a raiva e uma dor surda ecoaram em seu peito. Ela se arrependeu de trazer isso à tona. Aqueles sentimentos desamparados de amor que ela nunca poderia deixar de lado giravam como uma tempestade cruel dentro dela.
Assim, Camilla amou o príncipe Julian por mais de dez anos.
O que havia de errado nisso?
Até agora, Camilla nunca havia contado a ninguém sobre o que aconteceu naquele dia. Ela não havia contado a Therese, é claro, mas também nunca havia contado a seus pais ou amigos.
Ela sabia que eles iriam rir dela por dar tanta importância a uma situação trivial e pela forma como ela se sentia. Como você pode amar alguém por um motivo tão bobo? Eles teriam zombado, fazendo pouco caso dos sentimentos de Camilla. Mas não importa o quão trivial ou bobo as outras pessoas pensassem que a situação fosse, Camilla ainda o amava.
É possível que algumas pessoas ao seu redor a tenham ouvido e levado seus sentimentos a sério. No entanto, Camilla ainda temia deixar as pessoas saberem.
Camilla não queria ser ridicularizada no momento mais importante de sua vida.
“Não.”
Enquanto Camilla o encarava com os olhos ligeiramente trêmulos, Alois balançou a cabeça.
“Só senti um pouco de ciúme, só isso.”
“Ciúmes, você disse?”
Camilla franziu as sobrancelhas com ceticismo para Alois, que assentiu. Seus olhos vermelhos brilharam intensamente, sem hesitar quando ele olhou para Camilla.
“Se eu estivesse no lugar dele, diria a mesma coisa. É por isso que fiquei com um pouco de ciúme de Vossa Alteza por tê-lo conhecido naquela época.”
Alois não riu nem a fez de boba.
Ele disse isso com um rosto calmo e sério, com sua voz soando com um timbre sincero.
Créditos:
Tradução: Sakata
Revisão: Momoi