A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 13
Aqueles passos pesados pararam em frente à porta do quarto em que Camilla estava.
“Por favor, perdoem a minha grosseria.”
Ele disse essas palavras quando a porta se abriu.
A pessoa que ela esperava ver de repente apareceu ―――― Era Alois, respirando pesadamente e pingando de suor. Ele tinha uma expressão feroz que ela nunca tinha visto em seu rosto antes quando ele entrou na sala.
As crianças ficaram intimidadas em silêncio pela súbita mudança na atmosfera. O alvoroço foi totalmente reduzido em um instante. As crianças se calaram enquanto se escondiam atrás de Camilla. Até mesmo o menino barulhento e a senhora idosa ficaram em silêncio quando ele entrou, com os olhos arregalados pelo choque.
Alois ignorou todos eles e foi diretamente até Camilla. Ao olhar para ela, ele lutou muito para recuperar o fôlego, inspirando e expirando profundamente, sendo interrompido por suas próprias tosses. Então, ele fechou os olhos, dando um último suspiro profundo.
Mas isso dificilmente parecia acalmar os sentimentos de Alois. Quando ele abriu os olhos novamente, eles estavam furiosos.
”
“Você é…”
Os ombros de Camilla estremeceram de surpresa quando Alois falou com uma voz baixa que ela nunca o ouviu usar antes. Ele parecia calmo, mas a raiva borbulhando sob suas palavras era fácil de ouvir.
“Você é o tipo de pessoa que sai correndo no meio da noite sem contar pra ninguém, não é?”
Uma mulher solteira andando pelas ruas à noite sozinha. Uma moça delas ou era tola ou era prostituta. Ao perceber a implicação por trás daquelas palavras pungentes, Camilla ergueu o rosto.
Mas quando ela olhou para cima para fazer uma careta para Alois, ela só foi recebida por seu olhar frio.
“Você entende o tamanho do alvoroço quando não conseguimos encontrá-la em seu quarto? Enviei todos os servos da mansão ao redor da cidade para te procurar em todos os lugares.
Alois prometera acompanhá-la ao orfanato quando voltasse. Ele provavelmente foi o primeiro a perceber que Camilla tinha ido embora quando ele veio para buscá-la. Foram muitas as pessoas que viram a interação de Camilla com aquele menino. Depois de ouvir a história daqueles espectadores, ele poderia facilmente deduzir para onde Camilla tinha ido.
“Tem muitos lugares sombrios e nada seguros nesta cidade. É um milagre você não ter sido sequestrada na rua. Achei que você teria pelo menos o mínimo bom senso com relação a si mesma, mas suponho que estava errado por não te dizer expressamente.
“Ah, Lorde Alois, por favor, espere um momento…! Essa garota, ela…!”
Enquanto Alois repreendia friamente Camilla, a velha na cama tentou intervir. Ela queria proteger Camilla. Mas sua ação corajosa foi interrompida pelas palavras geladas de Alois.
“Senhora, este é um problema entre Camilla e eu. Estou ciente de que estou me intrometendo em sua casa e espero que você possa suportar meu pedido irracional, mas poderia, por favor, permanecer em silêncio por enquanto?”
Apesar das palavras serem educadas, as conotações pareciam tudo menos isso. A idosa não conseguiu pressioná-lo mais e abaixou a cabeça, calada.
“Camilla, fiz tudo o que pude para garantir que você tivesse tudo o que precisava. Mas, desde o início, você só ficou reclamando.”
“Mas o que você está…?”
“Mesmo assim, você agiu de forma egoísta e saiu no meio da noite, sem se importar com a quantidade de problemas que causou para mim e para minha casa, e enquanto eu estava preocupado com você, você está se divertindo em um lugar como este.”
“Se divertindo… O que você está…?!”
Camilla apertou os punhos e cuspiu essas palavras.
“O que você vai dizer agora?! Que está exausto?! Mesmo na verdade você não se importando com nada?! Por que exatamente você acha que eu estava nas ruas sozinha?!”
Sendo simplesmente preparada para viver o resto de seus dias como uma boneca em uma casa de bonecas, como isso realmente significava que ele estava fornecendo a ela tudo o que ela precisava? Qual era a visão que Allois tinha de Camilla?
Camilla não podia suportar que seus sentimentos fossem completamente pisoteados.
“Eu queria sair, então por que eu não poderia simplesmente sair?! O único motivo pelo qual estou aqui é porque eu estava tentando ajudar!!”
“Não é sua função ajudar pessoas assim. Você deveria ter chamado alguém para ajudar.”
“Mas… me pediram ajuda? Como eu poderia simplesmente deixá-los sem socorro?!”
“Era só voltar para a mansão e chamar um servo. Se você tivesse feito isso, no mínimo, eu não teria que correr pela cidade procurando por você.”
Camila mordeu o lábio.
Alois não estava errado. Depois de pedir ajuda, a melhor coisa que ela poderia ter feito era voltar obedientemente para a mansão. Dessa forma, teria sido mais fácil levar a velha para casa. Imediatamente ela poderia dar uma resposta apropriada.
Isso simplesmente não era algo que passou pela sua cabeça naquele momento. Embora o menino não tivesse recebido nenhuma ajuda da propriedade onde morava, teria sido diferente se Camilla estivesse com ele. Mas Camilla não fez essa escolha. Por causa de sua raiva, sua frustração e, acima de tudo, seu orgulho.
“E-Espere, Lorde Alois! Ela…! Ela realmente me ajudou! E naquele momento, eu não sabia que ela o conhecia…!!”
Como Camilla estava sem palavras, o menino pulou na frente dela com uma voz em pânico. O menino tentou esconder Camilla pelas costas, olhando para Alois com o rosto pálido.
“Não fique bravo com ela, ela não fez nada de errado!”
“Rolf, esse não é o problema aqui. Fique em silêncio.”
Ao ouvir a voz retumbante de Alois, o menino chamado Rolf tremeu um pouco, mas ainda se manteve firme.
“N-Não! Eu não vou ficar quieto!”
“Espere, pare de agir de forma precipitada!”
Quando Rolf endireitou os ombros, Camilla tentou impedi-lo. Alois é conhecido como um senhor caridoso e gentil. Mas continuava sendo um lorde. Com uma única palavra, ele poderia exilar de Mohnton qualquer um que se opusesse a ele.
E nesse instante não parece que Alois está calmo como de costume. Ele deve ter precisado de muita coragem para respondê-lo dessa forma.
“Como todo mundo na cidade pensa que eu sou um mentiroso, ninguém me ajudou mesmo eu implorando.”
Os lábios do menino tremeram, mas ele não parou de falar.
“Todo mundo na cidade pensa que sou um menino mau. Eu sei disso. Mesmo a vovó tendo desmaiado de verdade, ninguém acreditou em mim. Mas mesmo assim… Mas mesmo assim, essa moça era a única pessoa estúpida o bastante para me ajudar…! Não tinha mais ninguém que pudesse me ajudar!!”
Enquanto Rolf gritava tão rápido que suas palavras pareciam formar uma fumaça, ele apontou para Camilla. Alois continuou olhando para aquele garotinho e sua expressão não mudou. Levando em conta a diferença de status e de estatura entre os dois, Rolf estava enfrentando uma intensa atmosfera de intimidação.
“Se não fosse por ela, a vovó ainda estaria deitada em um beco. Sou grato porque ela me ajudou…!”
Alois ficou em silêncio. Ele ainda olhava para Rolf. Rolf, por sua vez, recusou-se a recuar. Como nenhum deles piscou, o silêncio cobriu a sala.
Tudo o que se ouvia era o som da lareira crepitante. Aquelas chamas queimavam tão quentes quanto os sentimentos ardentes que estavam em jogo. Ouviu-se o pio de uma coruja nas árvores. O silêncio parecia que iria durar para sempre.
E então aquela atmosfera tensa foi interrompida pelo pequeno som repentino vindo do estômago de uma criança.
Alois e Rolf se viraram ao mesmo tempo para olhar para a fonte da perturbação. Eles não foram os únicos. Todos na sala não puderam deixar de olhar.
A culpada era uma jovem, escondida atrás da saia de Camilla. A primeira criança que apareceu para dizer que estava com fome antes.
A garota parecia confusa quando todos se viraram para observá-la, então, depois de um momento, ela olhou para baixo e lentamente moveu a mão para a barriga. Quando seu rosto voltou para cima, seus olhos estavam cheios de lágrimas.
“UAAAAAAAAAH! ESTOU COM FOMEEEEEEEEEEE!!”
Era realmente apenas fome? Ou ela não podia mais suportar aquela atmosfera feroz que tomou conta da sala? De qualquer forma, a garota chorou bastante. Alois esfregou a nuca enquanto Rolf soltava a respiração que estava segurando por muito tempo. Como se fosse contagioso, as outras crianças começaram a chorar uma após a outra.
“Ei, aguentem firme! Hoje está sendo bem diferente da nossa rotina! Como a vovó precisa dormir, não vamos jantar!”
“Nããão!”
Enquanto Rolf tentava acalmar a situação com um olhar envergonhado no rosto, a garota balançou a cabeça de um lado para o outro em meio às lágrimas. Em vez de ficar quieta, ela realmente gritou para Rolf.
“Não, não, não, não! Eu estou com fome!”
“Pare de ser tão egoísta! Crianças, vocês não podem se acalmar?!”
“Nããão!! Tanto o senhor quanto o nosso irmão mais velho são assustadores!!”
Os gritos da garota ecoaram pela sala. Longe de fazê-la parar, Rolf só fez a garota chorar ainda mais alto e, embora a velha tentasse fazer alguma coisa, ela mal conseguia se mover da cama e sua voz só saía como uma tosse. Alois não sabia o que fazer enquanto olhava para o teto.
Camilla, enquanto isso, soltou um suspiro enquanto esfregava a ruga entre as sobrancelhas.
Depois de respirar fundo, ela tomou sua decisão.
“…Está bem.”
Camilla não chorou, nem gritou essa palavra. Mas sua voz ainda atravessava o barulho daquela sala barulhenta.
“Vou preparar algo para vocês comerem. Agora, parem de chorar! Me mostrem onde é a cozinha!!”
As crianças olharam para Camilla, com rostos desanimados.
Não, não só as crianças. Tanto Alois quanto Rolf olharam para Camilla como se não acreditassem no que ela acabara de dizer.
“Camilla, você está…?”
Alois olhou para Camilla com incredulidade. A filha de um nobre estava prestes a preparar uma refeição para um grande grupo de crianças, desse jeito… Você pode mesmo fazer isso? Ele não disse isso, mas sua expressão era clara.
“Eu não te disse antes que cozinhar era o meu hobby?”
Camilla disse isso, com uma gargalhada.
“Mesmo que seja para tantas pessoas?”
“Se estou cozinhando para uma pessoa só ou para dez, isso não importa.”
Quando Camilla estufou o peito, Alois franziu a testa. E então ele suspirou como se estivesse cedendo.
“Muito bem. Eu vou te ajudar também. Eu ficaria preocupado se te deixasse sozinho.”
“Lorde Alois vai ajudar?”
Desta vez, foi Camilla quem encarou Alois com incredulidade. Enquanto Alois arregaçava as mangas, ela notou suas mãos grossas e desajeitadas. Com aquelas mãos e a língua arruinadas por anos de violência alimentar, como ele poderia cozinhar bem?
“Eu também sou um homem de Mohnton. Até mesmo eu tenho um pouco de confiança naquilo que me ensinaram.”
Cozinhar era uma virtude comum na terra de Mohnton. Não tinha nada a ver com ser um plebeu ou um nobre.
“Eu não te disse isso antes?”
Como se estivesse lançando um desafio, Alois respondeu as palavras de Camilla exatamente dessa forma.
Tradução: Sakata
Revisão: Momoi