A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 12
Mais tarde naquela noite, uma senhora idosa gemeu baixinho enquanto estreitava os olhos.
Quando olhou nos arredores para verificar onde estava, ela piscou. Não era apenas a cama firme em que estava deitada que parecia familiar, mas o teto que ela olhava também. Sendo assim, ela sentiu o calor e ouviu o estalo de uma lareira próxima.
Ela percebeu imediatamente que estava em seu próprio quarto.
A última lembrança que aquela senhora idosa tinha era de que deveria estar na cidade. Ela estava com um dos meninos mais velhos da casa para comprar comida, já que o Lorde viria naquela noite.
Foi no caminho da volta que isso aconteceu. Depois de terminar as compras, ela sentiu uma súbita náusea e não conseguia se mexer.
Aquele menino tentou deixar a velhinha na posição mais confortável possível em um beco enquanto corria para buscar ajuda. A última coisa que ela lembrava é que ele estava chamando as pessoas que por ali passavam.
Ela não tinha a menor noção do que aconteceu depois disso.
Como diabos ela voltou pra cá?
Enquanto seus olhos se moviam pela sala, ela podia ver as figuras daquelas crianças familiares iluminadas pelas luzes oscilantes do fogo… Assim como uma jovem que ela nunca tinha visto antes. Todos olhavam para a idosa com preocupação.
Mas, assim que perceberam que ela havia acordado, todos ficaram aliviados.
A sala onde todos estavam ansiosamente prendendo a respiração de repente explodiu em um barulho.
“Eu disse que tudo ficaria bem! Você realmente não confiou em mim, não foi?!”
“Mas isso foi porque você nem sabia qual remédio usar e também porque fez uma bebida esquisita pra ela! Além disso, por sua causa eu tive que carregá-la!”
“Pois você deveria estar me agradecendo por ajudar! Quando você estava chorando sozinho, como iria trazê-la de volta?!”
“Eu não estava chorando!!”
Naquela velha e minúscula sala, Camilla e o menino estavam discutindo de forma intensa outra vez.
Mas, embora o quarto fosse tão pequeno, estava cheio de crianças que estavam cuidando da velha enquanto ela acordava. Devia ter pelo menos dez delas por lá. Algumas delas choravam alegremente por causa da recuperação da idosa.
Mas a gritaria dos dois que estavam brigando era muito mais alta que esses sons.
“Em primeiro lugar, por que eu simplesmente estaria carregando os medicamentos certos na mão?! Quase não tivemos tempo de ir comprar mais remédios também, não lembra?!”
“Está bem…!”
O menino arregalou os olhos em choque. Ele não tinha notado até agora.
“Sabe, você parece uma pessoa má, mas é surpreendentemente inteligente…”
“Você está tentando me fazer de idiota?!”
Os ombros de Camilla enrijeceram sem querer. Quando ela estava prestes a continuar brigando com o menino, de repente ela ouviu uma voz rouca ao lado dela que interveio.
“Com licença, quem é você…? Você me trouxe até aqui?”
Quando a idosa se levantou em sua cama, ela olhou para Camilla e o menino com confusão. Ela ainda parecia fraca e seu rosto estava pálido.
“Ah, vovó, essa pessoa não ajudou em nada!”
Antes que Camilla pudesse responder, o menino se inclinou sobre a cama e disse isso.
“Embora ela tenha dito que ajudaria, ela me obrigou a carregar tudo! Ela também não sabia para onde ir e ainda por cima é boca suja!”
As palavras do garoto não eram exatamente mentirosas. A velha podia ser frágil e magra, mas ainda era impossível para Camilla carregá-la nas costas. Através de um revezamento de sustentá-la pelos ombros entre eles e, às vezes, ter o menino carregando-a nas costas, eles conseguiram de alguma forma voltar.
Ela também não conhecia o caminho. A casa da velha estava localizada no beiral da floresta, longe das principais ruas da cidade. Era um lugar onde as lâmpadas movidas a pedras de mana não alcançavam. Ela teve que confiar na orientação do menino, que tinha apenas a lua para iluminar o caminho. O menino ficou irritado com Camilla e a chamou de inútil, enquanto Camilla o rebateu aos gritos. Foi desse jeito mesmo, brigando o tempo todo, que eles conseguiram voltar para aquela velha casa, apesar das circunstâncias.
“Era como se eu tivesse que fazer tudo sozinho!”
Depois de ouvir a história do menino, a velha olhou para Camilla. Então, abaixou a cabeça, curvando-se o mais baixo que podia na cama.
“Eu sinto muito. Creio que causamos muitos problemas pra você. Eu fui salva por causa da sua generosidade.”
“Não diga isso. Eu realmente não fiz muita coisa.”
Quando Camilla disse isso, o menino de repente gritou “Viu só?!” como se isso provasse que estava certo. Mas, quando ele levantou a voz, de repente se transformou em um grito de “GEH!”.
A velha deu um tapa na cabeça do menino. Seu golpe não foi doloroso, afinal ela era fraca, mas bastou para silenciar o menino.
“Isso lá é jeito de falar sobre a pessoa que me salvou?”
“Mas na verdade…”
“’Mas na verdade’, uma ova. Sem ela, eu não teria voltado em segurança. Você não tem que dizer alguma coisa pra ela?”
O menino fez um beicinho, estando com a cara feroz. Embora parecesse terrivelmente insatisfeito com isso, ele ainda obedeceu humildemente à idosa. Virando-se para Camilla, ele abaixou a cabeça.
“…Muito obrigado.”
“Ora, ora, você é obediente, não é? Fufu~.”
Camilla disse isso com um sorriso. E então estendeu a mão para tocar a cabeça daquele menino na frente dela, acariciando seu cabelo loiro que estava sujo.
“Você estava mesmo dizendo a verdade. Por ter gritado de forma tão sincera, conseguiu salvar a vida da sua avó. Você realmente se saiu bem.”
“Não me trate como uma criança! Pare de agir como se fosse alguém importante!”
“Bem, eu realmente era… Até pouco tempo atrás.”
A filha de um conde. A futura esposa de um duque. Uma posição muito melhor do que a de uma plebeia que vive nos arredores da cidade. Pelo menos era assim que Camilla pensava de si mesma.
Mas já não é mais assim. Neste momento, Camilla não é nada mais do que uma garota em estado deplorável, sem nenhum lugar para chamar de lar. Seu casamento com Alois, que não mostra nenhuma intenção de perder peso, parece uma coisa distante. Ou seja, ela dificilmente pode ser chamada de ‘a esposa do duque’. Para o menino que gritou “Não minta!”, Camilla sorriu com desdém.
“Se você é tão importante, por que está vagando sozinha?!”
“Por que eu não estaria? Tenho tantos motivos.”
“Isso soa como o tipo de coisa que alguém que fugiu de casa diria. Ei, você, você realmente não tem para onde ir?”
O menino olhou diretamente para Camilla como se já soubesse disso. Com essa súbita percepção inesperada, ela desviou o olhar.
“Se você não tem para onde ir, você pode- GEH!”
O menino estava prestes a continuar, mas ele gritou novamente. A idosa bateu nele pela segunda vez.
“Não diga algo rude. Você deve reconhecer uma nobre quando vê um.”
O menino olhou para a velha com olhos relutantes. Camilla, por sua vez, ficou feliz em escapar do interrogatório.
Sem saber o que Camilla estava pensando, a velha a chamou.
“Você está hospedada em algum lugar da cidade? Tenho certeza de que tem algumas pessoas preocupadas com você. Eu gostaria de ajudá-la a voltar para a cidade imediatamente, mas não posso me mexer e as crianças são muito pequenas…”
“Não se preocupe com isso…”
Pra começo de conversa, não existe ninguém que esteja preocupado com ela.
Nem as empregadas e certamente nem mesmo Alois. Seus pais e ex-seguidores na capital certamente não tinham noção de qual era o estado atual de Camilla, nem se importariam em saber.
Enquanto ela mordia o lábio trêmulo, uma das crianças puxou levemente o vestido de Camilla com a boca aberta.
Ao olhar, Camilla viu uma garotinha de uns cinco ou seis anos olhando para ela. A garota piscou algumas vezes, com seus grandes olhos de corça olhando para cima como um animal bebê.
“Estou com fome…”
Como se fosse o momento ideal, o estômago da garota roncou suavemente. Mas, antes que Camilla pudesse responder, outra mão puxou seu vestido.
“Eu tenho que ir…”
“Huh?”
“Estou com sede…”
“Espere, espere só um momento!”
“UWAAAAAAAAH, meu irmão mais velho me chutou!”
As vozes das crianças de repente explodiram como se uma represa tivesse desabado. Se antes tinha sido simplesmente a liberação da tensão quando viram que a velha estava bem, ou se eles chegaram ao limite de sua paciência, Camilla já não tinha mais ideia, pois ela foi puxada de um lado para o outro por suas mãozinhas.
– T-Tenho que lidar com o problema do banheiro primeiro? Ah, mas, esses dois estão brigando… Ahh, caramba! Solte-me!
Ela não conseguia pensar direito por causa de todas as vozes chorando na sala.
A velha, de sua cama, tentava dizer para aquelas dez crianças se acalmarem, mas isso pouco ajudava no meio do vozerio. Quando o menino que ajudou a carregar a velha de volta gritou para todos calarem a boca, isso só aumentou o nível de barulho.
Ela não conseguia acompanhar o que estava acontecendo quando foi puxada para a esquerda e para a direita.
E, como se o infortúnio procurasse companhia, de repente houve uma forte batida na porta daquela velha casa.
Depois de algumas batidas na porta, quem estava batendo deve ter percebido que não havia ninguém para abri-la.
“Com licença, eu estou entrando.”
Uma voz familiar surgiu quando essa pessoa entrou pela porta sem ser convidada.
Imediatamente, toda a casa estremeceu com o solavanco daqueles passos… Era como se estivesse acontecendo um terremoto.
Tradução: Sakata
Revisão: Momoi