A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 97
O presente que Klaus deu a Camilla desapareceu.
No dia seguinte ao do chá que fizeram juntos, Camilla percebeu que a maleta branca que recebeu antes de ir embora de Blume tinha sumido de seu quarto.
Ela considerava o conteúdo como um presente precioso, mas… Bem, como era tecnicamente o presente de um homem, no fim das contas ela o escondeu em sua estante, nas sombras de alguns de seus outros pertences.
“Lady Camilla, aconteceu alguma coisa?”
Enquanto Camilla examinava a prateleira na tentativa de encontrar o presente, Nicole, que acabara de entrar na sala trazendo água fresca, perguntou curiosa. Depois de recolocar a jarra na mesinha de cabeceira, ela olhou para Camilla.
“Nicole, tinha uma maleta branca por aqui, você viu? Era desse tamanho.”
Camilla se virou e estendeu o polegar e o indicador para Nicole, abrindo um espaço entre eles por onde ela pudesse ver a empregada. Depois disso, Nicole estava lá quando Camilla o colocou entre as flores, bonecos e cartas da prateleira para escondê-lo.
No entanto, Nicole balançou a cabeça, negativamente.
“Se você diz que não viu, será que desapareceu? Mas quando eu estava limpando antes, não me lembro de ter visto isso na prateleira.”
“É mesmo? Então me pergunto… Será que eu deixei em algum lugar?”
Ela geralmente o guardava em seu quarto, mas às vezes o levava consigo para a cozinha. Ela queria usar seu conteúdo como referência para que ela mesma fizesse algo parecido com aquelas flores cristalizadas. O problema é que, na verdade, eles estavam tão além do nível de confeitaria de Camilla que ela nem conseguia usá-las como um ponto de referência.
“Bem, tudo bem. Eu estava pensando em ir para a cozinha hoje, de qualquer forma. Talvez eu encontre a maleta por lá.”
Camilla se tornou aluna de Günter na arte de cozinhar guloseimas e doces desde que voltou de Blume. O próprio Günter estava peculiarmente motivado, embora fosse difícil dizer se era por causa de algum tipo de rivalidade com Klaus ou se era porque ele ainda estava frustrado com a Camilla pelo que aconteceu antes. Mas, pelo menos, Camilla estava aprendendo. E de vez em quando, embora brigassem, quando estavam em seus momentos mais passionais, às vezes formavam uma parceria surpreendentemente boa na cozinha.
Se Camilla se tornasse capaz de fazer doces deliciosos, então ela poderia eventualmente estar confiante o bastante em sua habilidade para que Alois comesse alguns doces também. Camilla também não permitiria que ninguém estragasse seus pratos, fosse com xarope, mel ou qualquer outra arma açucarada que esta família empregasse.
E, eventualmente, se Camilla conseguisse cozinhar a maior parte da comida dele, isso ajudaria Alois a mudar sua dieta também. Mas, antes de mais nada, ela teria que terminar seu trabalho com relação aos doces. Então, depois disso, ela poderia mudar a dieta dele aos poucos. Considerando o quão direta Camilla costumava ser, esse era um plano de longo prazo para ela.
〇
“Eu não tenho ideia do que você está falando.”
Camilla parou quando ouviu a voz de alguém que ela realmente não queria ouvir.
Enquanto se dirigia para a cozinha, ela ouviu a voz de alguém ecoar pelo corredor da mansão da família Montchat. Ao ficar escorada na parede e espiar cautelosamente colocando a cabeça levemente para fora, ela viu Alois e Gerda, que estavam cara a cara.
Não foi uma visão incomum ver os dois interagindo. Afinal, Gerda era uma funcionária experiente que gerenciava muitos dos outros funcionários da casa. Mesmo entre os empregados mais antigos da família Montchat, ela era uma veterana e não havia ninguém mais familiarizado com o funcionamento interno da casa do que ela.
Mas não era tão comum assim vê-los se confrontando de forma tão nítida..
“Você está dizendo que não sabe? Quem mais, além de você, aceitaria esse prato?”
“Ora, aquela empregada deve ter feito isso sem pedir permissão. Confiei a ela a supervisão da limpeza da casa, para que não fosse irracional esperar que ela encontrasse este prato enquanto trabalhava.”
“Então ela foi irracional tanto em encontrar o prato quanto em decidir servir comida para mim com ele?”
Embora a voz de Alois fosse profunda e raivosa, a expressão de Gerda estava mais gélida do que nunca.
Mas apesar da severidade na sua voz, a expressão de Alois permaneceu calma, apesar de firme. Era como se os dois estivessem se contendo, pelo menos em comparação com a forma como Camilla expressaria seu próprio descontentamento. No entanto, a atmosfera elétrica entre os dois parecia quase tangível em pleno ar. Uma jovem empregada que estava fazendo a limpeza nos arredores escapou do local o mais rápido possível, com uma expressão petrificada em seu rosto.
“As empregadas mais velhas não são tão corajosas a ponto de fazer algo assim sozinhas. Isso com certeza aconteceu por uma insistência sua, Gerda.”
“Como pode ter tanta certeza? Afinal, ela também começou a servir aqui durante o mandato do Mestre. Considerando a crise atual em que nos encontramos, seria tão estranho assim pensar que ela agiu por conta própria?”
“Crise atual?”
“Sim.”
Gerda afirmou suas palavras suspeitas sem perder o ritmo.
Era como se ela não se importasse com o fato do homem à sua frente ser o dono da casa ou um duque. Ela não se sentiu intimidada com as palavras dele. De alguma forma, parecia que mesmo que Alois fosse o tipo de lorde mal-humorado e tivesse tentado rosnar para ela, Gerda também não mudaria sua reação de forma alguma.
“Antes mesmo de abandonar as palavras do Mestre, por causa do tumulto em Blume, o povo de Mohnton já estava em estado de confusão. Tenho certeza de que aquela empregada foi simplesmente incapaz de suportar a dor de vê-lo em tal estado, Lorde Alois, enquanto você destruía as tradições queridas desta terra, uma após a outra. E quem exatamente influenciou isso? Quem é a pessoa responsável por essa mudança recente que você vem passando, Lorde Alois? Certamente você mesmo está ciente disso, não está?”
Alois ficou em silêncio enquanto olhava para Gerda. Gerda pode ter feito a pergunta, mas os dois já sabiam a resposta. Claramente a pessoa responsável era Camilla.
“A única coisa que posso dizer é que talvez num esforço para que o senhor se lembre de realmente é, a emprega decidiu servir aquele prato. Lorde Alois, em se tratando de Mohnton ou em se tratando do senhor mesmo, nenhum dos dois precisa mudar. O mais importante é manter esta terra perfeita, para honrar os desejos do Mestre e das gerações anteriores. E acima de tudo…”
Ao dizer isso, Gerda olhou para o chão. Por um breve momento, uma expressão triste passou por seu rosto. Uma expressão que Camilla nunca tinha visto Gerda usar antes.
“Acima de tudo, é isso que você deve às duas pessoas que assassinou.”
“Gerda…”
Mas, no momento em que Alois tentava falar, foi abafado pelo grito repentino vindo do fundo do corredor.
“Mas o que foi isso?!”
Camilla saltou do corredor incapaz de conter as palavras.
Gerda voltou seu olhar para Camilla, enquanto Alois se arregalou de surpresa.
“O que quer dizer com isso? O que você acabou de falar…?”
‘Assassinados’, Gerda com certeza disse tal palavra. Pela maneira como ela disse isso, não parecia que Alois sacrificaria alguém pelo bem do território ou sentenciaria a morte como duque daquele território.
Não, ela disse que Alois assassinou duas pessoas. Camilla não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
Mas, naqueles olhos de Alois que fitavam Camilla, o medo neles era inconfundível. Enquanto seu rosto empalidecia, Alois tentou falar com ela primeiro.
“Não é nada demais. Camilla, é que há pouco tempo…”
“Não, não adianta, Lorde Alois. Eventualmente, essa pessoa poderá um dia ser sua esposa. Seria negligente continuar mantendo segredos dela. Não tem como o senhor esconder isso para sempre.”
“Mas… Gerda-”
“Essa pessoa quer ouvir a verdade. Você deveria ser sincero com ela e contar o que houve com sinceridade.”
Camilla olhou para Gerda e Alois. Ela normalmente odiava a simples visão de Gerda, mas pela primeira vez elas estavam de acordo em alguma situação. Embora ela estivesse prestando atenção às escondidas, Camilla ouviu toda a conversa que levou a essas palavras. Ela não podia fingir que não tinha ouvido nada e, a menos que conversassem sobre isso, ela sabia que os pensamentos pesariam sobre ela.
“Lorde Alois, por favor, seja franco comigo. O que Gerda disse é verdade?”
Alois mordeu o lábio, olhando para o chão. Por algum tempo o silêncio dominou o recinto. Apesar de estarem na época primavera, uma brisa fria soprava pelo corredor em que só os três se encontravam.
“Se Lorde Alois achar difícil falar sobre isso, então eu mesma falarei. Tudo bem se for assim?”
Gerda olhou para Camilla ao dizer isso, sem nem sequer erguer uma das sobrancelhas. Quanto a Camilla, contanto que ela ouvisse a verdade, nada mais importava.
Ela se virou para acenar positivamente para Gerda, mas Alois balançou a cabeça de repente.
“…Nada disso. Eu vou falar sobre isso com você. Camilla, posso tomar um pouquinho do seu tempo?”
Com isso, Alois apontou para Camilla.
A questão da maleta desaparecida já tinha desaparecido de sua mente. Depois de acenar para ele sem pensar duas vezes, Camilla seguiu Alois.
Créditos
Tradução e Revisão: Sakata