A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 49
“Ah, caramba! Ficar aqui pensando nisso sozinha não vai me levar a lugar nenhum!”
Mesmo que não tivesse ninguém para ouvi-la, Camilla gritou de uma forma costumeira ao se levantar.
Este não era o momento para ser absorvida por pensamentos como estes.
Em situações como essa, a melhor coisa que ela podia fazer era sair de casa até se sentir melhor. Talvez as coisas se resolvessem sem que ela tivesse que se preocupar com isso – ou pelo menos era o que Camilla esperava. Fazendo isso ou sendo absorvida por outra coisa, ela conseguiria distrair sua mente deste problema.
Por isso Camilla agora estava na cozinha, pouco antes do meio-dia.
A cozinha já estava lotada de gente se preparando para cozinhar.
A maioria das casas temporárias construídas às pressas não tinha cozinha. Elas geralmente nem tinham seus próprios banheiros também. Quando disseram que essas casas seriam temporárias não estavam brincando. A melhor coisa que poderia ser dita sobre as casas é que elas tinham quatro paredes e um teto.
Portanto, as instalações comunitárias também tiveram que ser erguidas às pressas. Outro grande edifício foi construído próximo às residências temporárias, repleto de cozinhas, banheiros e quartos, de uso livre para todos.
E dentro da cozinha comunitária daquele lugar estava Camilla. A cozinha, que foi construída de forma que pudesse ser facilmente desmontada mais tarde, tinha um fogão que era um pesadelo para acender e uma fornalha que era pesada o bastante para assar pão. Bancos irregulares e incompatíveis foram colocadas lado a lado para formar uma bancada.
No topo de um fogão defeituoso e desgastado, uma panela nova estava em completa disparidade. Cortando os ingredientes e colocando-os naquela grande panela, estavam os cozinheiros e chefs da família Montchat, que vieram da capital.
Depois de um mês, a ajuda veio de mais longe do que apenas Grenze. O alívio de Grenze veio principalmente na forma de trabalho físico, enquanto da capital Alois se encarregou de trazer ouro e suprimentos.
A terra tinha começado a se perder nos meses de inverno. Além disso, Mohnton era o território mais setentrional do Reino de Sonnenlicht. Assim, em Einst, uma terra ainda mais ao norte do que a capital do território, o frio cortante já havia começado. Os poucos campos cultivados ao redor da cidade mineira já haviam começado a murchar, com os próprios animais sendo pastoreados dentro da estação. Deixados por conta própria, o que eles poderiam comer? Plantas tóxicas ou sapos venenosos dos pântanos? Com suas reservas de alimentos arruinadas, o espectro iminente da fome pairava ameaçadoramente sobre o povo de Einst, que mal havia começado a se reerguer após aquele desastre.
Portanto, após a calamidade, foram fornecidas refeições para o povo de Einst. Sob liderança dos cozinheiros empregados pela família Montchat, a comida cozida era distribuída diariamente para as pessoas e Camilla frequentemente ajudava.
Para Camilla, que não tinha força física nem magia suficiente para ajudar no processo de reconstrução e recuperação, o mínimo que ela podia fazer era ajudar a preparar os ingredientes para os cozinheiros.
No início, as pessoas ficaram um pouco ansiosas por Camilla estar na cozinha, mas depois que ela participou de alguns turnos, não se importaram nem um pouco com a presença dela.
Neste momento, Camilla estava cortando legumes ao lado dos outros chefs e não parecia deslocada enquanto fazia isso. Camilla, é claro, era muito exigente em garantir que os vegetais fossem bem lavados e descascados antes de cortá-los.
“…Sobre o Lorde Alois?”
Theo e Leon trocaram olhares enquanto carregavam grandes sacas de trigo para aquela cozinha movimentada.
“Isso mesmo. Quero saber exatamente que tipo de impressão vocês têm dele.”
Com a faca que usava para fatiar os legumes na mão, Camilla virou-se para olhar os dois criados com os quais ela se acostumara.
Theo e Leon pareceram um pouco confusos com a repentina linha de questionamento. Querendo saber como responder a ela, eles fizeram o possível para responder sem ofender.
“Acho que ele é uma pessoa calma, mas por que você está perguntando isso tão de repente?”
“É só por capricho mesmo. Eu estava curioso para saber o que vocês dois pensavam dele, só isso.”
Ela ainda estava preocupada com o que Alois poderia estar pensando, então Camilla decidiu fazer algo sozinha. Se as pessoas na cidade estivessem felizes com Alois e com o que ele estava fazendo, então tudo ficaria bem. De certa forma, ao ouvir os pensamentos das pessoas da cidade, ela esperava tirar suas próprias dúvidas.
“Acho que entendi.”
Theo assentiu de um jeito que dava a entender que ele não estava vendo o que ela estava fazendo. Ele cutucou Leon que estava ao seu lado como se pedisse ajuda.
“Lorde Alois é um homem sério e de boas maneiras. À sua maneira, ele sempre parece calmo e comedido. Não importa que tipo de atitude ou palavras ele tenha recebido das pessoas influentes de Einst no passado, ele nunca perdeu a calma.”
“Hmm,” Camilla pensou consigo mesma. Esta cidade sempre teve uma atitude hostil com relação a Alois. Camilla nunca havia presenciado esse tipo de conflito pessoalmente, mas não era difícil imaginar como seria quando pensava na forma como ela própria foi recebida pouco tempo atrás.
“Eu sempre me perguntei como ele parou de ficar com raiva. Mas ele realmente é um homem afiado. Ele sempre conseguia se esquivar das perguntas mais mordazes e dos comentários hostis. O que posso dizer? Que ele é incrível, um homem que não comete erros? É difícil eu encontrar alguma falha nele.”
“Eu não estava pedindo para você encontrar falhas.”
Quando Camilla disse isso, Theo sorriu ironicamente.
“Mesmo assim, eu me pergunto por que ele agia assim? A maioria das pessoas aqui ainda não gostava dele do mesmo jeito.”
“Ah, mas as coisas são diferentes agora”, Theo acrescentou apressadamente, mas a emenda de Theo não importava muito para Camilla.
“Por que as pessoas não gostavam dele? Você tem certeza que era assim?”
Era uma pergunta simples. Ele não cometeu nenhum erro, então que reclamações eles poderiam ter? Como Theo havia dito, ele era calmo e sensato, não parecia ter muitas características nele que o tornassem detestável.
Nesse caso, por que eles não gostavam tanto dele?
Quando Camilla perguntou isso a ele, Theo pareceu um pouco confuso.
“Hmmm… Bem, não sei se esse era o problema. Fosse ou não um orador excelente ou impecável em seu trabalho, as coisas seriam as mesmas. Honestamente, não acho que Alois teve chance, para começo de conversa.”
“…Foi por algo nesse sentido, não é?”
Camila falou com um suspiro. Ela não simpatizava com os habitantes da cidade, mas os entendia.
Os sentimentos pessoais nem sempre seguem quaisquer regras lógicas, as pessoas simplesmente não gostam do que quer que seja que não gostem. Para superar essas emoções arraigadas, apenas ser ‘excelente’ não era suficiente.
“Mas, como eu disse, as coisas são diferentes agora, falando francamente.”
Theo disse isso encorajando Camilla, cujos olhos se arrastaram para a tábua de cortar à sua frente involuntariamente. Ela não estava chateada de verdade com o que ele disse, mas o próprio Theo não sabia disso. Enquanto Camilla levantava a mão para continuar fatiando as batatas empilhadas ao seu lado, Theo sorriu para ela.
“Nós mesmos vimos desde que saímos do subsolo antes de você. Vimos como Alois passou correndo por nós sozinho, de volta pelos túneis.
Naquela época, Alois, que ajudou aquelas pessoas presas no subsolo a chegar à superfície usando sua magia, estava liderando os esforços de socorro. Apesar do medo e da confusão de todos ao seu redor, Alois conseguiu manter a calma e o controle, apesar de gritar instruções alto o bastante para serem ouvidas acima do barulho das pedras caindo. Ele não cometeu nenhum erro de julgamento e todos os seus comandos estavam corretos. Cada ordem que ele deu foi dada com a única intenção de salvar mais vidas.
Mas as coisas mudaram no momento em que ele viu Nicole escapar dos túneis sem ninguém ao seu lado. Foi então que ele soube que não apenas Camilla estava presa no subsolo, mas também ainda não havia emergido.
Alois se separou de todos os outros sem pensar duas vezes, de repente mergulhando de volta naqueles túneis sozinho. Era óbvio o quão perigoso e imprudente era aquele movimento, já que aqueles túneis poderiam ter desabado completamente a qualquer momento.
“Ele perdeu completamente a calma e agiu como se não tivesse ouvido ninguém ao seu redor, foi um pouco surpreendente vê-lo mudar de repente assim. Tudo acabou bem no final, mas Lorde Alois poderia facilmente ter sido pego em um colapso a ponto de nunca mais voltar. Acho que ninguém mais teria feito o mesmo.”
“…Foi assim mesmo?”
Camilla respondeu calmamente, mas seus olhos vagavam. Sua mão não parava de se mover, cortando as batatas de forma ainda mais rápida e mais fina do que antes.
– Então Lorde Alois fez isso por mim.
“Eu acho que para fazer uma pessoa assim perder a calma, você deve ser bem próxima, não é mesmo? Todo mundo o viu um pouco diferente depois que isso aconteceu.”
“C-Certo.”
Por mais que tentasse, ela não conseguia parar de abrir a boca. Não era uma sensação ruim. Alois estava começando a ser aceito pelo povo desta cidade. Certamente, em breve, Alois poderá realmente conquistá-los para o seu lado. Pensando nisso…
– Espere, por que estou tão feliz com isso?!
Ela varreu as batatas cortadas, que havia acidentalmente reduzido a porções totalmente minúsculas por meio de seu trabalho inconsciente com a faca enquanto usava a tábua de cortar com um aceno de mão raivoso. Voltando-se para o criado em confusão, Theo não pôde deixar de sorrir.
“Bem, é assim que as coisas estão funcionando. Provavelmente é por isso que ela pensou que ele parecia um príncipe também.”
“Ei!”
Leon interveio de repente, como se tentasse calar Theo. Tendo sido instruído pelo chefe de cozinha no meio da conversa a levar seu saco de trigo para o fundo da cozinha, Leon correu na direção de Theo como se estivesse em pânico. Aquele homem tem um ouvido muito aguçado.
Caminhando até Theo com raiva, Leon agarrou seu ombro.
“Ei, é da minha irmã que você está falando! Não diga nada que não deva.”
“Não, acho que eu não disse nada particularmente importante, na verdade, entende?”
Ele tentou se cobrir, mas era tarde demais. A gafe já havia sido cometida.
“Que conversa é essa sobre ‘Príncipe’?”
Camilla cruzou os braços, olhando ferozmente para Leon e Theo.
Créditos:
Tradução: Sakata
Revisão: Momoi