A Vilã Quer Emagrecer o Seu Marido - Capítulo 44
A caverna começou a desmoronar por completo.
Seguindo Nicole, as pessoas começaram a fugir enquanto gritavam. O miasma explodiu formando um clarão, as paredes desmoronaram e o chão sob os pés dos que ali estavam se rompeu.
“Se puder, leve os feridos para um local seguro! Fique de olho nas crianças! Dê uma mão para os idosos!”
Em meio ao caos, Camilla deu ordens aos gritos. Ajudando uns aos outros, até os feridos e as crianças conseguiram sair da caverna.
“Todos escaparam?!”
Assim que todos passaram por ela, Camilla olhou sem fôlego para a caverna enquanto gritava. Qualquer um que ainda não tivesse chegado lá provavelmente não ia conseguir escapar. Não havia ninguém lá atrás ainda se movendo… Espera, havia sim.
“Espere, por favor, espere! Alguém ajude!”
Contorcendo-se à sombra de um colapso recente, alguém se moveu. Ao lado deles, outra pessoa estava de pé, gritando por socorro.
Quando outra explosão causou um clarão na caverna, ela pôde ver através do feixe de luz quem estava por lá.
Era aquela garota, Irma… Assim como aquela outra garota de cabelos castanhos e pele parecida com uma máscara de porcelana. Uma empregada com uma pinta bonita sob o olho.
“Frida ficou presa embaixo das rochas! Por favor, não a deixem aqui! Ajudem-na!!”
O pé de Frida estava preso do tornozelo para baixo sob os destroços.
Tentando escapar juntas, Irma pegou a mão de Frida para correr. Frida nunca foi uma corredora das mais velozes, então Irma ficou ao seu lado para tentar garantir que ela chegasse em segurança.
Mas, enquanto as duas estavam correndo, houve uma explosão bem ao lado delas. Não foi uma explosão massiva, mas foi suficiente para soltar pedras do teto.
Irma estava diante daquela súbita reação de energia mágica. Chocada com aquela explosão repentina, Irma parou atordoada. Foi aí que Frida a viu. Puramente por instinto, ela empurrou Irma para fora do caminho.
Irma caiu e, quando voltou a se levantar, já podia ver Frida presa sob os escombros.
“Frida!”
Irma correu até ela em pânico. As rochas que a prendiam não se moviam, não importava o quão forte ela empurrasse. Não havia nada que Irma pudesse fazer para ajudá-la sozinha.
O rosto de Frida se contorceu em agonia. Ela não podia ver o que tinha acontecido com o pé que tinha ficado preso sob as pedras, mas ela não queria imaginar.
“Alguém me ajude!!”
Irma gritou em desespero enquanto empurrava o corpo contra a maior das rochas caídas. Mas, como todos fugiram, ninguém parou para ajudar. Eles só se distanciaram cada vez mais. O chão trêmulo e as explosões que sacudiam a caverna tornavam óbvio que o tempo delas estava se esgotando.
“Irma, pare. Fuja logo daqui.”
Assim que Frida disse isso, aquele rosto outrora inexpressivo estava tingido de tristeza. Ela estava sem esperança. Frida não conseguia se libertar de jeito nenhum. Seu destino já estava selado.
Mas Irma balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos.
“Não! Alguém nos ajude, minha amiga está…! Me ajudem, por favor!!”
Ela gritou a plenos pulmões até que sua voz ficou rouca. Sua voz ainda pairava acima das explosões estrondosas. Mas todos já haviam escapado, por que algum deles voltaria?
“Frida! Não! Por favor, alguém ajude!!”
O frio úmido da rocha penetrou em suas palmas quando ela jogou seu peso contra ela. Irma não sabia o que mais poderia fazer. A caverna estava ficando mais quente a cada minuto devido às explosões, mas seu corpo não sentiu nada além de um calafrio terrível, enquanto o terror fazia suas veias gelarem.
“… Que mulher devagar, hein?!”
Quando uma voz cheia de ressentimento soou em seus ouvidos, Irma ergueu a cabeça para olhar. Havia a sombra de uma pessoa ao lado dela, jogando seu peso contra a rocha também. Aquelas mãos finas dela estavam plantadas nas pedras, tentando movê-las exatamente da mesma maneira que Irma tinha tentado. Aquelas mãos… Aquelas mãos pálidas e gentis que nunca conheceram um trabalho tão pesado antes.
Irma piscou enquanto permanecia estupefata, estando em dúvida se aquilo era uma alucinação.
“O que está fazendo?! Pare de olhar para mim como uma tola!!”
“… V-Você… Por que… Por que você…?”
“Por que a pergunta?! Você não estava gritando por ajuda?!”
A dona daqueles braços finos nem olhou para Irma. Tudo o que ela fez foi pressionar as mãos contra a rocha e empurrar com toda a força que conseguiu reunir.
“Mas… Você… Por que você me ajudaria?”
“Oras, você prefere que eu deixe vocês duas aqui pra morrer?!”
“Pare de ser ridícula!”, ela gritou enquanto empurrava ainda mais forte.
“Eu assumi a responsabilidade! Então, se você morrer, eu serei a culpada!!”
Mesmo depois de se unir àquela empregada chamada Irma, suas forças combinadas não foram suficientes para mover aquela pedra.
Cada vez mais, aquela caverna estava começando a se encher dos destroços que desmoronaram. Se as coisas continuassem assim, ela não seria esmagada por causa de sua responsabilidade? Uma pedra desse tamanho não era algo que duas garotas seriam capazes de mover sozinhas, para começo de conversa.
– Eita, já estamos ficando sem tempo…
À medida que ela ficava cada vez mais ansiosa, um par de mãos se estendeu para pressionar a rocha acima da cabeça de Camilla.
“Vamos colocar todas as nossas forças no próximo empurrão.”
“Hã…?”
Era uma voz muito familiar. Quando o som de outra explosão ecoou pela caverna, desta vez Camilla pensou que estava vendo coisas.
No entanto, a voz dessa pessoa voltou a surgir antes que ela tivesse tempo de ficar confusa.
“Um, dois, três e…!!”
Camilla instintivamente jogou seu peso contra a rocha na contagem final daquela voz. Colocando cada grama de força que tinha em seus braços, ela se jogou contra a pedra.
E aquela pedra, que não se movia uma polegada, começou a se agitar. Rolou completamente em seu eixo, caindo na poça de miasma ao lado dos que estavam ali presentes.
Camilla, que havia empenhado todo o seu peso fazendo esforço, não conseguiu deter seu impulso. Completamente focada em mover aquela pedra, ela nem pensou em amortecer sua queda. Mas pouco antes de cair, algo a deteve.
Alguém pegou o braço de Camilla antes que ela mesma caísse na poça de miasma. Afastando-se da beira daquela piscina, Camilla só encontrou sua voz depois que ela se levantou novamente.
“…Lorde Alois?”
Não poderia ser mais ninguém. Foi Alois quem pegou Camilla antes que ela caísse e ainda segurou seu braço.
“C-Como?”
– Como ele chegou aqui? E por que ele estava sozinho?
Quanto à pergunta de uma única palavra feita por Camilla, Alois também respondeu brevemente.
“A saída está logo à frente. Todos os outros já estão em segurança.”
“I-Isso é verdade?!”
“Temos que sair daqui também. Você consegue escapar por conta própria? Eu preciso carregá-la, pois, do contrário, ela não vai conseguir fugir.
Não havia tempo para comemorar. Enquanto Camilla lutava para dominar a sensação quase esmagadora de alívio que estava prestes a roubá-la de seu senso de urgência, Alois pegou Frida em seus braços. Então, ele olhou para Camilla mais uma vez para ter certeza.
“Não podemos ficar aqui por muito tempo. Tem certeza de que não há absolutamente mais ninguém aqui?!”
“Sim-”
Quando ela estava prestes a terminar de dizer ‘sim’, Camilla deu uma última olhada ao redor da caverna. As pessoas que estavam deitadas desde o início ainda não se mexeram e nunca mais poderiam se mexer. Não havia ninguém preso sob nenhuma rocha pelo que ela podia ver. Não havia um único sinal de movimento.
Mas Camilla acabou vendo.
Bem no meio da caverna. Uma bengala caída no chão. A silhueta de uma pessoa pequena, curvada no chão sem se mover. Depois que todos os outros fugiram, aquela velha não disse uma palavra sequer.
“AHHHH, MEU DEEEEEEUS!!”
Camilla gritou exasperada.
Aquele corpo idoso dela não tinha mais forças para ficar de pé. Era tudo o que ela podia fazer para continuar respirando de forma irregular e dolorosa.
Martha estava convencida de que morreria ali. Parecia apropriado, como alguém que viveu toda a sua vida naquela cidade. Um cidadão de uma cidade mineira não deveria realmente invejar a ideia de encontrar seu fim em uma mina. Quando Martha era jovem, era comum os homens morrerem assim. E como uma das pessoas que administravam a cidade, ela havia falado com muitas famílias enlutadas ao longo dos anos que haviam perdido entes queridos nas minas. Alguém morreria, outro tomaria seu lugar. Era assim que as coisas funcionavam.
Martha também estava sujeita a isso. Se ela morresse, alguém tomaria seu lugar. Era assim que as coisas funcionaram nesta cidade desde o início.
Então ela deve enfrentar o fim sem agir como uma derrotada. Não deveria ceder às emoções no último momento. Nunca se esqueceria do orgulho de Einst.
Foi o que ela pensou.
Então por quê?
“Pelo menos mova seus pés um pouco! Você é muito pesada!”
“Como você pode dizer isso para uma velha?! Você não tem nenhuma compaixão?!”
Martha sentiu-se andando, sendo apoiada de cada lado por duas mulheres. Na verdade, estava mais perto de ser arrastada do que andar. Uma delas era a empregada, Irma. A outra era Camilla, a futura esposa daquele odioso duque. Na mão, Camilla também segurava a bengala de Martha.
“Eu estava pensando nisso por um tempo, mas você é mesmo cabeça dura, hein?! Até com as crianças você estava agindo assim alguns momentos atrás!”
“Não dá pra evitar! Se eu tivesse que escolher entre ser atenciosa e morrer, então essa é uma escolha fácil de fazer!”
Irma e Camilla gritaram de um lado para o outro. Por alguma razão, embora os dois definitivamente negassem, suas brigas eram um pouco mais amigáveis do que antes.
“…Eu não preciso da sua simpatia.”
Martha murmurou, com sua voz fraca. As duas mulheres que arrastavam Martha sozinhas olharam para ela, mas não pararam de se mexer.
“Prefiro morrer aqui do que ser ajudada por um inimigo.”
“Então essa é mais uma razão para eu te ajudar! Afinal estou totalmente furiosa com você!
Camilla gritou com raiva, mas não mostrou nenhum sinal de que soltaria Martha. Através dos sons das explosões, as três conseguiram avançar e alcançar a abertura da caverna que levava à segurança.
À frente elas podiam ver as costas de um homem que liderava o caminho, uma luz mágica brilhando em suas mãos. Às vezes, ele se virava e gritava algo para encorajá-los. Camilla e os outros o seguiram o melhor que puderam.
“Se queria morrer tanto assim, então por que você veio comigo tão longe, pra começo de conversa?”
Martha hesitou quando Camilla a encarou duvidosamente.
De volta aos túneis, Martha percorreu um caminho extenuante apenas para seguir Camilla, mancando em sua bengala por aquele terreno traiçoeiro até que suas pernas cederam. Às vezes ela era apoiada por outros, às vezes ela praticamente rastejava no escuro, mas por quê?
Martha sabia muito bem. Agarrar-se tão desesperadamente à vida em sua velhice era vergonhoso.
“… Agi como uma derrotada.”
“Não há nada de errado em assumir a derrota em um lugar assim. É uma coisa muito mais saudável do que apenas ansiar pela morte.”
Camilla disse isso, olhando para frente. Essa garota provavelmente nunca tinha carregado algo tão pesado em sua vida antes. O suor escorria por sua testa. Ela provavelmente não teve tempo para pensar nisso, mas seu rosto estava coberto de sujeira e seu vestido estava em farrapos. Sua maquiagem há muito se tornou uma vítima do miasma, lama e calor, enquanto seu cabelo estava completamente desgrenhado. Ela parecia feia e suja, uma figura vergonhosa.
– A minha…
“Querer viver é algo natural. Todos os outros são iguais.”
– Derrota…
Martha abaixou a cabeça. Ela não conseguia mais mexer as pernas. A única razão pela qual ela ainda estava viva era por causa das duas garotas de cada lado dela, suportando seu peso enquanto a carregavam para frente. Mesmo que ela tenha dito que não queria ser ajudada por um ‘inimigo’, ela também não resistiu a essa ajuda.
– Minha aparência é que está só a derrota…
“Por favor, me passe a minha bengala.”
Martha disse bruscamente, olhando para a bengala nas mãos de Camilla.
“Eu não preciso mais de ajuda. Se eu não tiver escolha a não ser viver, andarei com meus próprios pés.”
Ao ouvir as palavras de Martha, Camilla bufou ironicamente.
“Faça isso sozinha. Não vou te ajudar mais. Estamos quase lá, então faça o seu melhor por conta própria, se quiser.”
Erguendo a cabeça, Martha viu uma luz no limite de sua visão.
Não era um brilho mágico. Era a luz deslumbrante do sol.
Créditos:
Tradução: Sakata
Revisão: Momoi