Akuyaku Reijou wa Danna-sama wo Yasesasetai - Capítulo 41
Ela podia sentir as pontas dos dedos submersas em água fria.
Será que ela caiu de costas? Ela sentia uma dor forte em sua espinha. Mesmo depois de abrir um pouco os olhos, seus arredores estavam tão escuros que era como se eles ainda estivessem fechados. Mas ainda era possível sentir o miasma denso em sua pele.
Camilla ficou imóvel, piscando no meio da escuridão. Então, de repente, ela se ergueu vigorosamente.
– Onde estou…?!
Seus pés estavam frios e dormentes. A parte de trás de seu vestido estava molhada enquanto ela se levantava. Na verdade, ela podia sentir que todo o seu corpo estava encharcado. Mas não se molhou com água. O lugar onde ela caiu era algo parecido com um pântano… E doía só de tocar. Era como um pântano cheio de miasma liquefeito.
O miasma geralmente era liberado como uma espécie de gás, viajando no ar. Mas quando o miasma atinge um nível muito alto de densidade, ele se liquefaz. Quando essa liquefação se solidifica em puro poder mágico, é criada uma pedra de mana.
Em outras palavras, este era um filão de pedras de mana, ou seja, um lugar do qual tanto o miasma quanto as pedras de mana brotaram para a vida.
– Não era uma tremenda mentira dizer que essa parte estava ficando seca.
Mesmo que as pedras de mana tivessem secado, este lugar ainda era rico em miasma. Se fosse deixado sozinho por outro período de tempo, o miasma se tornaria ainda mais denso e começaria a formar pedras de mana outra vez, de forma natural. Se as pedras de mana começassem a se formar aqui novamente, isso também seria acompanhado por reações naturais violentas.
– Então eu estava certa, afinal.
Ela não estava errada quando disse que todos deveriam ter fugido para a floresta. Ao pensar nisso, Camilla sentiu uma sensação de auto-satisfação. Mas sendo assim, o que aconteceu com os outros? Havia tantas pessoas naquela rua.
“Nicole! Alguém?! Tem alguém aí?!”
Rastejando através do miasma que beliscava sua pele dolorosamente, Camilla gritou no escuro. Em vez de ouvir alguém respondendo seus chamados, a única coisa que ela podia ouvir era outro estrondo à distância. As explosões do filão de pedras de mana ainda não devem ter parado.
Estava tão escuro que ela mal conseguia distinguir as mãos à sua frente. Camilla vasculhou aquele abismo, varrendo os braços à sua frente como se estivesse procurando algo.
“Nicole?!”
Quando as pontas dos dedos tocaram algo macio, Camilla levantou a voz. Parecia que ela tocou uma pessoa. Enquanto continuava a tocá-la, ela ouviu um gemido baixo vindo perto de seus dedos. Ela estava tocando o rosto de alguém? Ela deu um leve tapa no rosto da pessoa para tentar acordá-la, mas a pessoa despertou ela colocou a mão pro outro lado.
“Pare com isso… Pra quê isso…?”
Camilla franziu a testa quando ouviu aquela voz. Ela já tinha ouvido aquela voz antes, mas a pessoa na frente dela falou com um tom mais agudo do que Nicole. Sua voz era bastante baixa para uma mulher também.
“Quem está aí?”
“Era isso que eu queria te perguntar.”
Naturalmente.
Camilla havia caído no subsolo quando o chão desabou. Havia poças repletas de miasma liquefeito por todo o lugar, bem como o que pareciam ser túneis saindo da caverna em que se encontravam.
Ela não conseguia ver de onde eles tinham caído. Desde que caíram da superfície, ela pensou que pelo menos seria capaz de ver algum traço de luz, mas não havia sinal do céu acima. Ou eles caíam muito mais fundo do que ela imaginava ou o miasma era tão espesso que encobriu a cidade por cima.
Ao seu redor ela se deparou com pessoas que caíram pela terra exatamente da mesma maneira. Embora alguns tivessem ferimentos leves, não havia ninguém que tivesse morrido ou ficado ferido gravemente a ponto de não conseguir se mover.
Isso provavelmente era por causa das piscinas densas de miasma. Mesmo que não parecessem particularmente profundas, elas devem ter amortecido bastante o impacto da queda.
Como ainda havia algumas pessoas caídas no chão, Camilla e a mulher que ela havia acordado se separaram para ajudar os outros. Nicole também foi pega no colapso. Quando acordou em uma poça de miasma, a empregada de Camilla entrou em pânico e suas energias mágicas correram soltas, mas ela conseguiu se acalmar depois de um tempo. Apavorada com a possibilidade de perder o controle novamente, Nicole ficou sentada calmamente em um canto da caverna, abraçando os joelhos.
Por outro lado, a outra garota não estava nada quieta.
“Se você tivesse soltado minha mão, isso não teria acontecido!”
A empregada que tentara fugir para a praça ainda culpava Camilla. Na verdade, ela era a garota que Camilla havia acordado antes. Eles adiaram a briga enquanto ajudavam todos os outros que haviam caído, mas agora que todos foram auxiliados, não havia mais nenhuma obrigação que viesse antes da discussão.
Verdade seja dita, o que a garota disse não estava totalmente errado.
“Por que você não me deixou fugir? Eu não pude escapar! É por sua causa que estou presa em um lugar como este!”
Enquanto ela gritava com raiva, houve outra explosão ecoando. A sensação dos sons cada vez mais próximos encheu a empregada com uma sensação de pavor enquanto ela gritava.
As pessoas ao redor dos dois também pareciam cada vez mais assustadas. Se as explosões continuassem assim, o que seria delas? Especialmente por causa da força do miasma ao redor deles.
“Como você vai assumir a responsabilidade por isso?! Pelo andar da carruagem, todos nós seremos enterrados vivos!!”
Estendendo as mãos, ela indicou os habitantes da cidade em pânico ao seu redor. Camilla olhou para os rostos das pessoas que caíram no subsolo.
Seus olhos se acostumaram com a escuridão, então ela podia ver os contornos vagos das pessoas da cidade ao seu redor. A maioria eram mulheres, crianças e idosos. Havia pessoas da cidade e algumas das empregadas que trabalhavam na mansão. Sem mencionar Martha e seus dois criados.
“… Não temos escolha a não ser esperar por uma equipe de resgate da superfície.”
Uma das criadas disse isso com uma voz quase sem esperança.
“Nós também não poderíamos quebrar nenhuma pedra de mana para liberar seu poder mágico. Como você pode ver, essas veias murcharam, não tem pedras de mana em lugar algum.”
Era uma maneira clássica de sinalizar a aflição que os mineiros usavam no passado. Ao liberar uma grande quantidade de energia mágica, um usuário de magia na superfície poderia identificar sua posição. Normalmente, os mineradores causavam isso abrindo uma pedra de mana.
Outra maneira, é claro, era através da própria energia mágica de uma pessoa. Mas se eles não tivessem poder mágico suficiente para alertar alguém na superfície, não teria sentido usar essa alternativa.
A serva olhou para todos enquanto continuava.
“Tem alguém por aqui com poder mágico suficiente pra sinalizar alguém que está na superfície?”
“Claro que não.”
Uma cidadã de meia-idade respondeu imediatamente. Mesmo na escuridão, você poderia dizer que os pequenos contornos ao lado dela eram os vultos de crianças chorando.
“Todo mundo com poder mágico forte está trabalhando nas minas. Não tem ninguém com esse nível de força vagando durante o dia. Isso vale para os homens que estão aqui também.”
A mulher falou como se isso fosse natural. Mas tinha algo estranho nisso.
“Mas o Lorde Alois me disse que ele pediu uma parada nas operações de mineração, não disse?”
À medida que o miasma se tornava cada vez mais forte, Alois disse que havia pedido uma parada imediata nas minas de Grenze e Einst como medida de segurança.
Havia algo que ela ainda não tinha percebido e Camilla só conseguiu franzir a testa quando finalmente pensou nisso.
Tanto Grenze quanto Einst eram cidades que devem sua prosperidade à mineração. Se uma cidade parasse de produzir, isso representaria uma oportunidade para a outra ganhar vantagem na competição. Então foi isso que Einst fez.
“Esta cidade depende da mineração. Como poderíamos simplesmente parar?”
Foi Martha, agachada no escuro, que respondeu baixinho. Um desastre como este deve ter afetado seus velhos ossos e ela parecia exausta.
“Ao contrário de Grenze, a mineração é tudo o que esta cidade tem. Pedir para pararmos é o mesmo que pedir para pararmos de viver. Por quanto tempo era esperado que parássemos? O miasma sempre foi espesso por estas bandas. No entanto, ele queria que parássemos até que o miasma tivesse desaparecido completamente?
“Lorde Alois ordenou que vocês parassem porque o miasma estava em um nível fora do comum!”
“Como alguém que passa a vida toda na capital pode saber o que é ou não fora do comum aqui? Somos nós que moramos nesta cidade. Então, somos nós que sabemos melhor o que fazer.”
“Como você pode dizer que sabe melhor o que fazer estando em um estado tão lamentável como este?!”
“Diga o que quiser. Sempre moramos nesta cidade. Então, se estivéssemos errados, morreríamos.”
Com isso, Martha desviou o olhar de Camilla. Como se dissesse que essa era sua última palavra sobre o assunto.
– Ela já viveu muito… Então ela acha que pode dizer o que quiser?! Na verdade, Lorde Alois não estava absolutamente certo desde o início?!
No entanto, já não importava mais quem estava certo ou errado. As palavras de um estranho não tinham sentido, apenas a história e a tradição tinham valor aqui.
– Isso é totalmente estúpido!
Independente do principal fator determinante ser a aversão a Alois ou a rivalidade com Grenze, restava o fato de que eles se colocaram em um perigo a nível extraordinário. Cada vez que as explosões retumbavam, elas soavam cada vez mais próximas, acompanhadas pelos gritos cada vez mais altos de crianças e sussurros nervosos. Ao lado dela, ela ouviu alguém sussurrar ‘eu não quero morrer’.
Embora tentasse manter aquela voz forte contida, o medo começou a estremecer a fala da empregada que havia brigado com Camilla mais cedo. Talvez até Martha estivesse na mesma situação. Será que ela estava agachada para esconder o rosto para que os outros não vissem seu medo?
– Então eles têm sentimentos, afinal.
Mesmo que agissem como soldados de brinquedo, mesmo que seus rostos fossem como máscaras de porcelana, eles ainda queriam desesperadamente se agarrar à vida em uma situação como essa. Eles queriam ser salvos. Eles ainda eram pessoas cheias de sentimentos e vida.
Mas nenhum deles poderia se mover. Era como se todos estivessem enredados em sua criação, esperando que alguém assumisse o comando e lhes desse um comando.
Enquanto Camilla fechava os punhos, ela ouviu outra explosão estrondosa.
Parecia cada vez mais perto. As paredes tremeram, com algumas pedras se soltando. Antes que o som das rochas desmoronando terminasse, ela ouviu outra explosão, ainda mais perto.
“… Senhora, eu acho que… Temos que ir.”
Nicole, que estava sentada sozinha em um canto quando a checou pela última vez, sussurrou baixinho no ouvido de Camilla. Ela estava tão assustada quanto qualquer um.
“Não é apenas o miasma, é a própria energia mágica… Eu posso sentir isso se aproximando. Este lugar não é seguro.”
“…Nicole, você entende de coisas assim, não entende?”
Quando Camilla lhe perguntou isso, Nicole concordou sem muita convicção.
Com fortes poderes mágicos como o dela, ela era sensível às flutuações do miasma no ar. Ela também podia sentir coisas que Camilla e outros sem muito poder mágico não podiam sentir ou compreender.
“Tudo bem então.”
Camilla lhe deu uma resposta rápida, e então inalou o máximo de ar que pôde em seu corpo esbelto.
Sem alguém dando ordens, era como se essas pessoas não pudessem se mexer. Martha, que normalmente desempenhava esse papel, parece resignada à morte.
Como esse é o caso, havia apenas uma solução.
Era a hora de Camilla brilhar.
Créditos:
Tradução: Sakata
Revisão: Momoi