Akuyaku Reijou wa Danna-sama wo Yasesasetai - Capítulo 16
“Ei, velha malvada. Você está indo pra casa agora?”
Já era quase meia-noite. Um grande tumulto iria acontecer se eles passassem a noite fora sem contar a ninguém, então eles foram embora depois de se despedirem da idosa que dirigia o orfanato. Mas foi aí que eles ouviram aquela voz insolente chamando Camilla, que estava seguindo Alois porta afora.
“Quem você está chamando de velha?!”
Camilla se virou com uma carranca, repreendendo quem disse isso.
No final do corredor estava Rolf, que parecia estar chateado com alguma coisa enquanto fazia beicinho. Aquele cabelo loiro escuro dele parecia brilhar com a luz do castiçal que iluminava o corredor. Até a chama parecia dançar em seus olhos enquanto ele observava.
“Você… você é aquela mulher dos rumores, não é? É verdade que você intimidou a garota que o Príncipe ama?”
“Hein?”
“E é verdade que você teve que se casar com lorde Alois como punição?”
“Você realmente acredita nesses rumores? Tudo isso é mentira, é mentira!”
– Na verdade, a maior parte é mentira. Mas vai ficar mais complicado se eu disser que alguns dos rumores são verdade.
Quando Camilla disse isso, Rolf sorriu para ela.
“Sim, você deve razão, não é? Os rumores diziam que você era muito esperta, que até enganava o Rei e o Príncipe com sua doçura. Mas você é estúpida, ingênua e só consegue dizer coisas maldosas!”
“Você está tirando sarro de mim?!”
Camilla se irritou com os insultos repentinamente proferidos contra ela quando ela estava saindo. As palavras de Rolf feriram os sentimentos dela, que ainda estavam crus.
“Ah, a velha malvada ficou brava! Ela vai espalhar rumores maliciosos sobre mim!”
“Eu não vou fazer uma coisa dessas! S-Seu menino travesso!”
Pensando em lhe dar um tapa na cabeça, Camilla estendeu a mão para Rolf. No entanto, Rolf conseguiu escapar de suas mãos enquanto continuava sorrindo para ela como um tolo.
“Você realmente é má, não é? Você não combina com o Alois, hein?
Enquanto entrelaçava os dedos atrás da cabeça, Rolf riu. Camilla tentou estender a mão e agarrar as bochechas daquele garoto arrogante.
Ao fazer isso, porém, uma brisa fresca soprou da porta aberta, com o vento frio batendo no cabelo daquele garoto malvado.
“…Então, sabe, se Alois decidir que não gosta mais de você, você pode simplesmente voltar aqui de novo… Já que você é uma velhinha tão má, é óbvio que as pessoas vão te odiar um dia, não é mesmo?!”
Depois de dizer isso, Rolf ajeitou o cabelo atingido pelo vento com suas mãos.
“Até mais tarde!”, ele gritou e depois desapareceu nas profundezas da casa.
Chegou a manhã seguinte.
Correu um boato entre os criados de que Alois trouxe Camilla de volta, sozinho, no meio da noite.
Junto com esses rumores, havia também os sussurros da perturbação que causou toda a cena de ontem.
Essa vilã dos jornais tinha feito uma empregada chorar e então, depois de ter um ataque de raiva selvagem, correu às cegas para a cidade, se envolveu em problemas no meio da vida noturna e teve que ser trazida de volta pelo próprio Mestre… Esse era o tipo de fofoca que circulava.
Era uma história que tinha adquirido pernas e um novo par de sapatos. De alguma forma, parecia uma situação familiar.
– Nada mudou desde ontem…!
Alois dificilmente poderia perder todos aqueles quilos em apenas um dia, enquanto a maneira como as pessoas veem Camilla dificilmente mudaria da noite para o dia. Embora os criados da mansão tratassem Camilla com cortesias profissionais, seus olhos permaneceram frios. Em vez disso, devido a tudo o que aconteceu no dia anterior, seus olhares pareciam ainda mais farpados do que de costume.
Apesar de ter voltado para a propriedade por vontade própria, talvez tivesse sido melhor simplesmente ficar no orfanato.
Enquanto Camilla pensava com mal-humor em tudo o que havia acontecido, houve uma batida repentina na porta.
Embora ela permitisse que eles entrassem instintivamente, ela não sabia quem poderia estar visitando-a. Apesar de voltar para casa tão tarde da noite, Alois havia saído de manhã cedo para terminar o resto de seu trabalho. Neste momento, Camilla não conseguia pensar em ninguém que quisesse visitá-la, além dele.
“Por favor, me dê licença…”
A pessoa que abriu a porta tinha uma voz tímida.
Ao entrar, Camilla olhou para a jovem empregada baixinha… Uma garotinha miúda com olhos familiares, como um animal bebê.
“…Você.”
“Senhora, hum…”
“Você não é a empregada de ontem?! Como ousa mostrar o seu rosto para mim?!”
Ela foi a causa de todos os problemas de ontem. Ela recusou enganosamente o pedido de Camilla, faltou ao trabalho ficando na sala de descanso, falou mal de Camilla pelas costas e, quando confrontada diretamente, caiu em prantos. Hoje parece que ela está sem suas duas amigas. Ela deve ter muita coragem para vir sozinha.
“Por que você está aqui?! Você sabe o que eu passei por sua causa?! Fizeram uma bagunça na minha comida, transformaram a refeição em uma desordem e eu até tive que lidar com eles no banheiro…!”
“Hum, eu… Eu…”
“Apesar de tudo, eu ainda mereço respeito! Você foi ensinada corretamente em tudo?! Que tipo de trabalho preguiçoso você tem feito aqui até agora?! Como você pode ser tão egoísta e se esquivar de um trabalho assim e depois chorar no momento em que se depara com sua irresponsabilidade?!”
“Ahh… Uuh…”
A empregada tentou abrir a boca para dizer alguma coisa. Mas a única coisa que saiu de sua boca foi um gemido baixo. Quando Camilla olhou para a empregada cujos olhos estavam grudados no chão, aquele gemido se transformou em um soluço arfante. Enquanto seus ombros tremiam, ela agarrou a frente de seu vestido com aqueles punhos trêmulos.
“Não pense que vou perdoá-la só por causa das suas lágrimas.”
“Eu… Uuh… Ah, eu…”
Camilla cruzou os braços enquanto olhava para a pequena empregada. Ontem, todos os tipos de coisas a atrapalharam, mas agora ela havia aparecido no quarto de Camilla sozinha. Não há ninguém aqui que possa ajudá-la.
“Se você tem algo a dizer, diga com clareza. Só ficar aí chorando não vai me dizer nada.”
“Eu… eu… eu vou…”
A empregada pôs a mão no peito e respirou fundo. Então, com os olhos ainda brilhando pelas lágrimas, ela olhou para Camilla.
“Ah, hum, eu vim dizer à Senhora que eu… Ah…”
A jovem empregada estava prestes a chorar quando encontrou o olhar frio de Camilla. Ela mal conseguia respirar, pois sua voz era interrompida pelos soluços.
“Eu… Estou profundamente arrependida…! Eu sei que o que eu fiz foi errado. Senhora, você estava certa sobre tudo. Então eu… Achei que deveria me desculpar.”
Mas, mesmo em meio aos soluços, ela conseguiu dizer aquilo. As lágrimas não paravam de escorrer por seu rosto enquanto ela falava, misturadas com suspiros de falta de ar.
“Q-Quando coisas assim acontecem, minhas lágrimas não param… M-Mas, quando eu fico quieta, às vezes eu consigo contê-las.”
É por isso que, quando Camilla a acusou antes, ela ficou quieta enquanto olhava para baixo. Porque, no momento em que ela começasse a dizer qualquer coisa, as lágrimas iriam fluir.
No entanto, se ela ficar em silêncio assim, alguém eventualmente virá em seu auxílio, quer ela queira ou não. Mesmo que fosse contra seus sentimentos. O que ela realmente queria dizer não consegue ser dito em palavras e todos ao seu redor simplesmente a defenderão enquanto pensam nela como ‘uma pobre criatura’.
“Haaaaaa?! Ficar calada porque tem medo de chorar? Não posso te perdoar por isso!! Levei a culpa por tudo!!”
“Sim! E-Está certa…!”
“Não pense que eu sinto pena de você! Se você simplesmente pedisse desculpas imediatamente, eu nunca teria ficado tão brava, sabia?! Além disso, você não derramou uma lágrima quando estava falando pelas minhas costas, não é?! Você tem alguma desculpa esfarrapada para isso?! Fico me perguntando.”
“Eu não tenho desculpas esfarrapadas! E-Então, se você deseja que eu seja removida daqui, eu vou aceitar…!”
“Mas vejam só, você pode falar mesmo com o rosto cheio de lágrimas!”
Embora soluçando e falando devagar, a empregada ainda falava. Se alguém entrasse nessa cena, seria muito fácil parecer que ela estava intimidando essa jovem empregada por algum motivo mesquinho, mas, na realidade, não era nada mais do que uma bronca merecida se o choro fosse ignorado.
“Se você não consegue manter a compostura, então você não está apta para ser uma empregada. Estou errada?”
No entanto, se você ficar chorando por uma coisinha dessas, como espera concluir um trabalho estressante?
O fato é que a propriedade de Grenze muitas vezes passa por longos períodos sem ver o Mestre. O principal trabalho dos servos quando ele está ausente é manter o decoro da propriedade, enviar relatórios regulares à família principal sobre as taxas de importação e exportação, bem como a qualidade das pedras de mana que estão sendo escavadas, além de compilar informações sobre as idas e vindas de mercadores pela fronteira. Então, resumindo, ele tem uma função semelhante a de um escritório do governo.
É realmente um trabalho adequado para alguém tão emotivo?
“Mesmo que você diga isso, não tenho autoridade para substituí-la. Pode ser uma história diferente se eu pedir a Lorde Alois, mas por que eu deveria ir tão longe por pessoas como você?”
Camilla poderia realmente implorar para que Alois dispensasse uma simples empregada?
Não importava o que acontecesse, ela nunca poderia ir até Alois e dizer ‘Por favor, livre-se daquela empregada.’. Por isso mostrar com tanta clareza que sua mente ainda estava fixada em sua raiva por uma coisa tão trivial, o orgulho de Camilla não permitiria.
“Você foi devidamente repreendida e tenho certeza de que está refletindo sobre seus atos. Além do mais, seu pedido de desculpas foi sincero, não foi?
“S… Sim.”
“E então, o que vem a seguir?”
A empregada piscou os olhos manchados de lágrimas.
“Seu pedido de desculpas chegou ao fim?”
Quando Camilla franziu a testa para ela, a empregada pareceu confusa por um momento. Então, ela enxugou as lágrimas com a manga e respirou fundo.
“…Eu não vou mais fazer isso. Vou trabalhar duro e tentar mudar quem eu sou.”
Ela suprimiu o tremor em sua voz e falou claramente, sem gaguejar ou soluçar.
“Muito bem”
“Fufu”, Camilla riu corajosamente.
“Se você fizer isso de novo, eu definitivamente vou pegar no seu pé. Não pense que vou esquecer também. Da próxima vez que eu for para Grenze, com certeza vou checar o que está fazendo para ter certeza de que não está relaxando por aí!”
“Sim!”, enquanto a empregada se curvava profundamente diante de Camilla, a luz do sol brilhava através da janela, lançando as duas em uma longa sombra.
Aquele céu azul claro que se estendia tão longe era um sinal de que logo chegava a hora de partir.
Créditos:
Tradução: Sakata
Revisão: Momoi